JollyRoger 80´s

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quarta-feira, 29 de julho de 2020

As dificuldades de se debater escravidão com historiadores passionais e a Fé militante



Concordo. Assim como os homens brancos do passado que fizeram alianças, negócios com lideranças tribais, Reis e mercadores africanos e fizeram o nefasto comércio de escravizados pelo Atlântico, também não devem ser julgados a partir dos valores morais e éticos da atualidade. Se existe a chamada dívida histórica, vários tons de pele são devedores. O que precisamos é fortalecer uma sociedade onde ninguém mais seja um escravo, seja de trabalho, religião, ideologias políticas e de movimentos sociais.

Com isso não estou afirmando que não devemos nos chocar, nos revoltar com os acontecimentos e mentalidades do passado. Óbvio que devemos! É um clichê, mas o historiador deve relembrar o que a sociedade insiste em esquecer, com o objetivo de auxiliar na evolução moral e intelectual da mesma. Mas quando o historiador se utiliza dos acontecimentos e erros do passado para insuflar discórdias na sociedade do presente, ele está deixando de ser um guardador de memórias para se tornar um militante fanático.

Os historiadores não se comportam como historiadores. As consequências de falar sobre temas como escravidão africana ou qualquer crítica ao movimento negro é garantia de ser chamado de racista. Falar que já existia escravidão na África antes do chegada dos europeus está aparentemente proibido.
"Mas Roger Marques, acho que o problema, não é falar a verdade. Mas usar a mesma para diminuir os efeitos gerados da escravidão aqui, ou destorcer essa visão e colocar como se os negros tivessem se entregado e pedido pelo amor dos Deuses pela escravidão. O problema é usar esse discurso pra invalidar racismo estrutural e todas as atrocidades que fazem parte da historicidade do nosso país."
Confesso que nunca vi alguém afirmar seriamente que os negros africanos tivessem se entregado ou fossem felizes com a escravidão. Mas já li em vários livros que a escravidão africana era uma escravidão "light". Esse lance de "racismo estrutural" também não é um conceito de aceitação unânime. Novamente reitero que não construiremos uma sociedade decente com ressentimentos, rótulos e simplificações.
Ninguém nega os males e horrores da escravidão. Mas quando você afirma isso em qualquer grupo de História, as pessoas te acusam de racista, "passador de pano", relativista do sofrimento alheio etc. É complicado debater seriamente assim, pois as pessoas se veem acuadas e com receio de expor suas ideias.
Não concordo com discursos que tentem minimizar os efeitos da escravidão. Só não gosto que a complexa História da Humanidade seja simplificada numa narrativa de "bem contra o mal", "opressores versus oprimidos".
Mas acreditem, as pessoas cometem anacronismos, estudam os fatos focadas mais nos aspectos emocionais do que racionais. Julgam atos e comportamentos do passado com os valores éticos e morais do presente. Tenho visto muitos exageros, narrativas tendenciosas, ressentimentos e radicalismos nos movimentos sociais. Alguns veem isso mais como vingança do que reparação histórica ou promoção de um estado de mais igualdade de oportunidades entre as pessoas.

E justamente por considerar importante a necessidade de melhorias sociais é que chamo atenção para os deslizes conceituais e radicalizações das militâncias, pois essas atitudes só irão criar mais discórdia e fraturas na nossa peculiar sociedade.


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