JollyRoger 80´s

JollyRoger 80´s

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Diálogos entre os intelectuais e a sociedade


A própria Academia cria obstáculos para que seus ''membros'' dialoguem com a sociedade. É uma dificuldade, por exemplo, ter um livro ou pesquisa publicada se você não é apadrinhado por alguém. Existem vários outros canais de comunicação entre pesquisadores e sociedade (no meio virtual: blogs, Youtube), mas geralmente os nossos colegas só se interessam por pesquisas de intelectuais celebridades, pelas que são publicadas, ou seja, tudo que contém o ''selo de qualidade'' da tão criticada Academia.
Em uma sociedade semi alfabetizada, os próprios jovens pesquisadores de ciências humanas, que se acham muito críticos e mUdernos, não passam de mais massa de manobra e dão um tiro no pé ao ficarem glorificando certos ídolos populares de discurso vazio e contraditório, fazendo assim com que sua voz seja ainda mais abafada. Se acham livres pensadores dotados de senso crítico, relativizadores tarados pós-modernos, mas se sentem muito mais seguros defendendo verdades absolutas sem perceber.




Foto/Fonte: https://unsplash.com/photos/6liebVeAfrY

Igrejas e partidos politicos



Não acredito que para fazer o bem precisemos fazer parte de igrejas e partidos políticos. Mas creio que existam muitas (?) pessoas dentro desses lugares que sejam honestas, saibam interpretar textos, possuam capacidade de pensar por si mesmas e realmente estejam interessadas em viver dignamente com outras pessoas. Talvez não sejam todas e nem a maioria, mas nunca serão menos importantes e necessárias.

É realmente difícil conviver com pessoas que pensam e agem diferente de nós. Mas o Brasil e o Mundo são muito grandes e realmente tem lugar pra todo mundo. Mesmo que seja (infelizmente e felizmente) cada um no seu quadrado. O que não dá pra tolerar é com pessoas sedentas por poder e que insistem em querer moldar todas as outras à um único padrão determinado, pessoas que dificultam a vida das outras, que demonizam as outras e que querem fazer isso protegidas pela Lei.

O bom político é um SERVO do povo. Não um LÍDER do povo. Assim como o bom religioso. Ele deve transitar bem pelas diferentes ideologias e conhecer as diferentes culturas que compõem uma sociedade complexa. Por isso que empresários da religião não deveriam se envolver com política, no sentido de ocupar cargos públicos. Porque geralmente esse tipo não usa a Razão, mas uma fé cega, uma única verdade absoluta para tratar das questões do mundo.




Fotografia/Fonte: https://unsplash.com/photos/bBNabN9R_ac

Escola sem partido e doutrinação nas escolas e universidades




Acho que um professor começa a influenciar seus alunos, politicamente falando, no ensino médio, em cursos e na universidade (nos cursos de humanas). Não concordo que salas de aula se tornem tentáculos de partidos políticos. Assim como defendo que todos os pontos de vista, ideologias, autores sejam estudados.
Existe um predomínio do pensamento de esquerda, progressista, nas Universidades. Mas não existe UMA Esquerda! E isso não é crime! Da mesma forma ocorre uma maior influência de ideologias da Direita no mundo empresarial, em igrejas evangélicas, nos cursos de exatas. As pessoas têm que se informar melhor antes de darem suas opiniões. Não é errado ser de esquerda ou direita. São opções.
O errado é querer destruir seus adversários. E o ideal é que as pessoas sejam incentivadas a desenvolver sua capacidade de criticar, analisar a realidade social. Mas quando isso acontece e de repente quando um aluno começa a questionar certas coisas o professor é acusado de tê-lo doutrinado.
Porque na verdade para os poderosos não interessam cidadãos pensantes. Mas sim trabalhadores obedientes, ordeiros, consumistas, religiosos e mansos. Incentivar o questionamento não é doutrinar. Isso seria fazer com que o aluno concordasse com tudo o que o professor fala. Isso é moralmente questionável se ocorrer.

Ideologias são conjuntos de ideias que podem ou não influenciar a vida das pessoas. Toda ideologia pode ser usada para doutrinar e ser adotada como verdade absoluta. A religião, por exemplo. Não existe total imparcialidade na defesa de certos pontos de vista. A democracia é um sistema político que deve garantir a liberdade de expressão das pessoas defenderem suas ideologias! Desde que não se defenda a destruição de outras pessoas. Devemos ser intolerantes apenas com a intolerância.
Estudar, ensinar, conversar sobre diferentes ideologias (e religiões, por exemplo) faz parte de um processo educacional saudável, que não está limitado à salas de aula de escolas e universidades. Estamos falando sobre vida em sociedades. Entendo como doutrinação quando alguém (um professor, um político, um religioso) com influência, transmite uma ideia, teoria, ponto de vista como se este fosse uma ÚNICA verdade! Não existe apenas um modo de se viver e pensar.
Se essa "verdade" for defendida por alguém que se aproveita da sua liberdade de expressão para cometer crimes, se essa "verdade" for usada para destruir culturas e se essa "verdade" for usada para incentivar violência... Nesses casos, sim, eu acho que essa pessoa deve ser proibida e sofrer as consequências da Justiça.

A boa educação junto com a ARTE auxiliam no desenvolvimento do senso crítico, do pensamento, do auto-conhecimento das pessoas. Somente pessoas toscas, tortas e sem sensibilidade desprezam e desejam censurar livros e obras de arte.



quinta-feira, 24 de junho de 2021

A arte de Maria "Dimary" Dimova

 









A arte de Ruiz Burgos parte 2















 

A arte de Ruiz Burgos



 









A arte de SHAWN SHEEHAN












shawn-sheehan.com/

BATMAN de 1989. Analisando o clássico de 32 anos sob a luz do luar.

O filme Batman, dirigido por Tim Burton completou 32 anos de lançamento no dia 23 de junho. A obra, que na minha opinião, já nasceu clássica devido ao seu apelo visual, ainda divide opiniões em relação às suas escolhas na construção dos personagens e da trama. Mas, se formos comparar com a visão realista de Christopher Nolan ou com o ultra violento e depressivo universo de Zack Snyder, o filme de 1989 pode ser considerado infantil? Acho que não! Batman é resultado de um trabalho artístico coletivo e o filme de Burton possui personagens complexos e fascinantes que continuam servindo de inspiração para muitos artistas da atualidade.

Thumbnail image for batman e coringa.jpg

Quando uma obra de arte alcança determinados estágios de existência é comum a ocorrência de uma celebração coletiva acompanhada de uma revisão de seus conceitos, de sua importância e, principalmente, a análise sobre o que a mesma ainda tem a dizer. O Cinema, enquanto forma de arte inserida em uma Indústria Cultural, fornece produtos que são reflexos do contexto histórico, político, estético e comercial da época.

No entanto, algumas obras tornam-se fenômenos instantâneos de bilheteria, causam uma euforia generalizada e tempos depois passam a ser apenas um passatempo esvaziado de conteúdo, quando não esquecidas.

E o que dizer de obras que praticamente já nascem clássicas? Como analisar da maneira mais imparcial possível, certos fenômenos culturais que provocam excitação e discussão a níveis planetários? Ainda mais quando foram lançados em uma época em que a profusão de informações não ocorria com a velocidade e abrangência de hoje.

Desde sua estreia, o filme estrelado por Jack Nicholson, Michael Keaton e grande elenco, já apareceu em todos os tipos de mídia e angariou todo tipo de reação, amores e até mesmo ódios. Na atualidade podemos afirmar que os fãs estão novamente vivendo um caso de amor tendo em vista o comemorado retorno de Michael Keaton ao papel. O ator vestiu o manto pela última vez em Batman O Retorno de 1992 e está gravando suas cenas como o velho Bruce Wayne no filme do Flash que deve estrear em 2022. 

batman_1989_poster.jpg

Em 1989 o personagem Batman completava 50 anos e a editora DC Comics lançava uma série de edições especiais para comemorar a data (como por exemplo, "O Messias" e "A Piada Mortal"). O personagem ainda gozava da imensa popularidade alcançada pela minissérie de Frank Miller "O Cavaleiro das Trevas" (The Dark Knight Returns). Os sombrios anos 1980 colocavam Batman em um contexto sinistro, gótico, solitário e violento.

Vale ressaltar que o personagem é dinâmico o suficiente para transitar com bastante propriedade pelas mais diferentes versões e cenários. Se pararmos para analisar, o Homem-Morcego já passou também muito tempo colorido e sorridente entre os anos 1950 e 1960.

Por isso, filmes como "Batman Eternamente" e "Batman & Robin", ambos de Joel Schumacher, não devem ser vistos como desrespeitosos ao ícone. Porque enquanto mito, ele pode e deve servir às mais diversas interpretações. E isso é ótimo!

Por que ficarmos com apenas uma visão do personagem? Compreendo a revolta causada quando a essência de algo é deturpada, mas talvez já tenha passado da hora de abandonarmos os radicalismos e sermos mais maleáveis, ainda mais se estivermos tratando de um personagem de histórias em quadrinhos.

Devemos nos permitir novas interpretações, visões, diversões. Não sejamos carrancudos e deixemos que Batman possa ser o que ele tiver de ser. Acredite, Adam West, Burt Ward e até mesmo George Clooney merecem sua atenção e por que não, suas gargalhadas.

Divagações à parte, voltemos ao filme de 1989. A estreia de Batman causou uma euforia generalizada, pois tratava-se de uma visão séria e dark do personagem que, pela primeira vez era pintado com tons épicos. Independentemente dos fins e dos meios, o Cinema é uma manifestação artística coletiva. E sempre considerei injusto quando o valor de um filme é reduzido ao enaltecimento somente da figura do seu diretor.

77796_295594740556768_1452032400_o.jpg

Por isso, gostaria de fazer justiça e afirmar que o valor do filme de 1989 está nas mãos de um coletivo de artistas, que podemos resumir em: Tim Burton, Michael Keaton, Jack Nicholson, Sam Hamm, Anton Furst, Bob Ringwood, Danny Elfman e Prince. O diretor, os protagonistas, roteirista, designer de produção, figurinista, o compositor e o excêntrico cantor, respectivamente.

Mesmo o personagem Batman, em essência é fruto da dedicação e criatividade de centenas de artistas que trabalharam nele por décadas. Não é somente de Bob Kane. Batman deve muito a artistas como Bill Finger e Jerry Robinson (co-criadores de Robin e Coringa), Denny O´Neil, Neal Adams, Frank Miller e Alan Moore. O vigilante de Gotham é resultado de um ininterrupto processo de construção coletivo, assim como seu filme que teve por objetivo representar a versão definitiva do personagem até aquele presente momento.

No final dos anos 1980, Batman era um vigilante sombrio, incansável, implacável e violento. E que no referido filme possui um ar um tanto psicótico e que não tem problemas em tirar algumas vidas de criminosos. A desaprovação sofrida por Ben Affleck quando foi anunciado no Batman Vs Superman não chega nem perto do que Michael Keaton sofreu quando foi escolhido para o papel.

A decisão não foi uma jogada de marketing, mas uma escolha conceitual de Burton, que confiava que o ator poderia fazer um autêntica interpretação apesar de ser mais conhecido por papéis cômicos. A performance de Keaton, como Beetlejuice é hilária, sendo interessante pensar que ele também poderia fazer um bom Coringa.

batman shadows color.jpg

Durante anos, Keaton foi massacrado, o que foi uma grande injustiça tendo em vista a seriedade com que interpretou o papel. No final das contas, o tempo foi generoso e depois das decepções geradas pelos dois filmes de Joel Schumacher, a sociedade deu o braço a torcer e passou a enxergar com mais carinho o trabalho de Keaton.

Burton quer sempre fugir de certas regras, de padrões. Ele não queria um Bruce Wayne que parecesse poder ser o Batman. Talvez, em sua visão, a roupa é que realmente tornasse Batman quem ele é. Uma grande inovação foi o uniforme inteiramente preto criado por Bob Ringwood. A fantasia de morcego é praticamente uma armadura, mas que visualmente parece o corpo de uma criatura. Bem diferente do visual claramente tático usado por Christian Bale nos filmes do Nolan.

No final das contas, o Batman de Michael Keaton não tem o físico esperado do herói, mas possui sua alma. O uniforme de borracha limitava a movimentação do ator, mas ele acabou incorporando isso na composição da personalidade e estilo do personagem. Seu vigilante não tem movimentos bruscos, ágeis, mas parece estar sempre no controle das situações de combate.

169980_295594193890156_143143921_o.jpg

A trama do filme não explica como Bruce Wayne treinou e criou seu arsenal bélico, o que incomodou muitos fãs que viam Batman como secundário em relação ao Coringa. O que vemos é um milionário excêntrico, levemente distraído, recluso e aparentemente relutante em manter relacionamentos, tendo em vista suas incursões ao submundo de Gotham como vigilante fora da lei.

Acompanhamos as primeiras investidas de Batman contra o crime, a formação de sua aura mitológica, de lenda urbana, a curiosidade da imprensa e as autoridades (o promotor público Harvey Dent, o prefeito e o Comissário Gordon) se esquivando do assunto.

O Batman de Burton/Keaton patrulhava as ruas sombrias retrô-futuristas de Gotham e não hesitava em espancar, explodir, metralhar, incendiar ou jogar de grandes alturas os criminosos que encontrava pelo caminho. Essa postura foi sendo suavizada com o passar dos anos, e nos últimos filmes, Batman não tirava vidas tão facilmente. (Até a chegada de Zack Snyder).

michaelkeatonbatman1.jpg

Em um primeiro momento, a trama do filme parece bastante simples, o que é usado também como argumento a favor dos filmes de Christopher Nolan. Essa é uma comparação fora de contexto, pois são épocas, estilos e opções estéticas totalmente diferentes. No entanto, vale ressaltar que alguns aspectos dos filmes de Nolan remetem aos de Burton, como a boca rasgada do Coringa e a cena em que Batman vai em direção ao Coringa com sua moto, semelhante à cena da batalha aérea do de 1989.

jack napier.jpg

O que acho bastante interessante são os traços de personalidade dos personagens. Nicholson é Jack Napier, um gângster narcisista, misógino, egocêntrico, ambicioso, emocionalmente instável e psicopata. E apesar dele negar, é sem dúvida um assassino.

Napier cai em uma armadilha organizada por Carl Grissom (Jack Palance), o Chefão do crime organizado da cidade. Na realização de uma queima de arquivo na Axis Chemicals, a situação sai do controle com a chegada da polícia e de Batman, que culmina com a desfiguração do rosto de Napier e sua queda em um tanque de substâncias químicas.

Batman-1989-batman-.jpg

O Coringa de Heath Ledger (que não teve sua origem contada explicitamente) se apresenta como um agente do caos, como um outsider que despreza as convenções, os códigos de ética da sociedade por considerar tudo uma grande farsa. Em suma, as pessoas seriam boas enquanto podem ser e todos os valores morais são abandonados ao primeiro sinal de problema. O caos está representado em seu próprio corpo com cicatrizes na boca, maquiagem borrada, cabelos sebosos e tiques nervosos.

O Coringa de Jack Nicholson é um criminoso com ambições bem definidas no começo da trama. Ocupa uma posição confortável na conjuntura da organização criminosa da qual faz parte, espera pacientemente o momento de tomar o poder e, enquanto o dia não chega, ocupa o lugar de amante de Alicia Hunt (Jerry Hall), mulher de Grissom. O que desencadeia de vez sua loucura foi a armadilha de Grissom para eliminá-lo e a intervenção de Batman, por quem culpa por seu novo sorriso permanente e cara de palhaço.

2013-08-20_160735.jpg

Napier renasce como Coringa segundos antes de matar Grissom. Durante o acerto de contas, deixa claro sua indignação pelo ex-chefe ter armado para ele por causa de uma mulher. “Você me traiu por causa de uma mulher. Uma mulher! Você deve ser louco”. No começo e por razões óbvias, Napier não aceita bem sua nova condição e usa uma pesada maquiagem em tom de pele para esconder sua coloração alva, cabelos verdes e lábios avermelhados.

3.jpg

Creio que o Batman e Coringa do filme de 1989 são tão profundos e complexos quanto os de Nolan, só que sua complexidade não fica tão didaticamente exposta. As motivações deles estão presentes em seus atos e em suas falas durante o filme, mas de maneira diferente do estilo adotado por Nolan, que faz com que seus personagens expliquem detalhadamente suas intenções e pontos de vista. O Coringa de Ledger, Ra´s Al Ghul (Liam Neeson), Espantalho (Cilliam Murphy) e Bane (Tom Hardy) embasam suas ações em sólidas ideologias que ficam bem explicadas para o telespectador.

Pode-se dizer que esse filme ocupa um relativo tempo com a ascensão do Coringa e pouco com Batman. Na melhor das hipóteses é um filme sobre Coringa e Batman. No entanto, é realmente difícil imaginá-lo com menos cenas do Palhaço do Crime, mas obviamente alguns elementos a mais com o Batman poderiam ser melhor trabalhados pelo diretor.

A fixação do Coringa pela fotógrafa Vicki Vale poderia dar lugar a mais material sobre as motivações de Bruce Wayne. Ou o fato do Coringa e Batman se interessarem pela mesma mulher foi uma das maneiras de indicarem similaridades entre as personalidades de ambos? Interessante ponto de vista, não? Batman e Coringa seriam dois lados da mesma moeda ou da mesma carta de baralho?

A Vicki Vale de Kim Basinger sofre uma ridícula transformação comportamental logo no início da trama quando de obstinada fotógrafa, que chega a Gotham para investigar a história de Batman, subitamente desiste de tudo ao se apaixonar perdidamente por Bruce Wayne depois de uma única noite juntos! A atriz então passa o filme inteiro como a donzela em perigo, dando gritos estridentes, perseguindo Wayne e sendo salva por Batman das garras do Coringa.

A pior parte é quando Alfred permite que ela adentre à Batcaverna, para espanto de Bruce. É o momento da verdade, lhe foi revelada a identidade de Batman e o que ela pergunta para Bruce? "- Me diz que aquela noite não foi apenas uma noite para nós. Nós nos apaixonamos, não foi?". 

326868_295594710556771_426153516_o.jpg

O Coringa quer se vingar de Batman e mostrar para toda a cidade quem ele é. Ele também deseja o caos, propagar medo e pânico. Também despreza as instituições, o poder público e os cidadãos. E se pararmos para contar, o Coringa sempre acaba matando mais bandidos que o Batman.

Enquanto narcisista ele se vê deprimido com um problema estético (seu rosto bizarro e sorridente), mas seu egocentrismo e loucura o fazem exaltar sua nova face e querer naturalizar seu novo ideal de beleza. Seu ataque inicial é envenenar uma série de produtos de beleza que, quando usados em conjunto, podem levar as pessoas à morte. Engraçadíssima a propaganda pirata televisiva do Coringa anunciando seus produtos e as duas modelos mortas com sorrisos estampados na face.

Joker_Smilex.jpg

A vaidade é um dos pecados capitais e a busca por produtos de beleza pode matar na Gotham aterrorizada pelo Palhaço criminoso. É bastante interessante na trama do filme a ideia de matar as pessoas por meio da busca destas por um ideal de beleza, tendo em vista que isso ainda é algo bastante atual. Quantas pessoas não morrem ou sofrem deformações por causa de uma obsessão e busca por padrões de beleza impostos? O Coringa pune as pessoas por suas fraquezas, por seus pecados capitais, como a vaidade e a cobiça.

Com seu ataque ao Museu ele busca absurdamente adaptar as obras de arte de acordo com sua visão artística, destruindo obras clássicas, quadros e esculturas ao som de "Partyman" de Prince. Depois de um ataque de gás venenoso, que mata todas as pessoas do museu, e da readaptação das obras, surge um ponto chave da trama quando o personagem explica para Vicki Vale suas pretensões.

joker-blueray 2.jpg

Ele acredita estar destinado à grandeza devido à sua condição de artista e quer que Vicki fotografe seu trabalho de artista homicida, que ela se junte a ele na vanguarda de uma nova estética. Em suas palavras, ele faz arte até que... alguém morra. É um vanguardista, o primeiro artista homicida do mundo!

Nesse momento, surge uma desorientada e mascarada Alicia. Vicki pergunta o porquê da máscara e o Coringa responde que a máscara é apenas um esboço, pois Alicia havia sido remodelada de acordo com sua nova filosofia e, assim como ele, havia se tornado uma obra de arte viva.

Alicia_Hunt.png

Alicia era uma modelo que passava a maior parte do tempo fazendo compras e lendo revistas de moda. Coroando suas experimentações, misoginia e desprezo pela amante, o Coringa mutilou o rosto de Alicia. Realmente, acho difícil entender como alguns podem dizer que o filme seja infantil. É uma das cenas mais rápidas, porém mais chocantes do filme.

alicia.jpg

alicia hunt.jpg

Talvez a maior licença poética dessa produção tenha sido colocar o Coringa como o assassino dos pais de Wayne, o que tornou a relação de ambos ainda mais odiosa e intrínseca, na medida em que um foi responsável pelo surgimento do outro. Cada um deles criou no outro seu maior adversário. É uma adaptação curiosa da história, mas que acaba por engrandecer em importância a figura do Coringa e diminuir a história pessoal de Batman.

O confronto final foi o mais cinema-espetáculo de todos os filmes com a Batwing dando rasantes por entre os prédios de Gotham tentando salvar as pessoas que estavam sendo envenenadas pelo gás do Coringa. Mais uma vez, o personagem provoca um genocídio em massa de pessoas gananciosas que foram seduzidas pelo dinheiro que ele distribuía. E, mais uma vez, pessoas sendo mortas por se renderem às tentações de um demônio. Impagável é a declaração do Coringa afirmando que estava libertando as pessoas de suas vidas inúteis, mas que, se elas tinham que morrer... que morressem sorrindo!




joker trust.jpg

Com a incrível, mas não perfeita trilogia de Nolan faturando bilhões nas bilheterias e suscitando favoráveis críticas e debates, foi comum surgirem também opiniões depreciativas em relação aos filmes de Tim Burton. Infelizmente, é um comportamento e fraco recurso argumentativo recorrente depreciar algo para poder supervalorizar outra coisa.

Com esse texto, pretendo demonstrar as inúmeras possibilidades de interpretação e análise dos aspectos de um filme. E principalmente ressaltar como as diferentes visões dos ícones culturais podem se manter fortes, contemporâneas, autênticas e divertidas.

batman-1989-final.jpg