JollyRoger 80´s

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Liberdade de criação e de expressão é para todos! A polêmica de "Black is King" e lugares de fala

Volto nesse texto a tratar das polêmicas a respeito do filme "Black is King", que já está disponível no serviço de streaming da Disney. Beyoncé enquanto artista tem total direito de se expressar, assim como de qualquer pessoa de analisar e criticar a obra. O que tenho debatido desde essa nova (velha) polêmica de semanas atrás é a liberdade que tanto ela quanto a historiadora Lilian Scwarcz tem de se manifestarem.

O que os entusiastas de Beyoncé e pessoas do movimento negro afirmam é que uma pessoa branca não pode querer ensinar para uma pessoa negra como ela deve se manifestar artisticamente, como ela deve se comportar, como ela deve defender seus ideais. Entendo isso até certo ponto.

Mas estamos em sociedade, meus amigos. O que você ou seu grupo faz ou defende afeta e influencia outros tantos. E você não pode querer que milhares de pessoas fiquem inertes de agora em diante por causa de reparações históricas. A valorização de uma cultura ou povo ou história não pode estar atrelada à diminuição de outros. O oprimido não pode e não vai se tornar outro tipo de opressor.

Mas se levarmos essas questões de maneira tão radical as consequências serão os isolamentos desses grupos. Às vezes as pessoas se enganam em relação à sua própria força e independência. Em sociedade não estamos sozinhos e só quem se manifesta e tenta o diálogo sabe o quanto isso é difícil. Nossa sociedade também é formada por milhares de idiotas que não sabem interpretar o que leem, fanáticos religiosos e ideológicos.

Se formos levar ao extremo os usos do lugar de fala (que é usado frequentemente como lugar de cala) os negros também não podem emitir opiniões sobre como pessoas brancas devem agir, pensar ou se expressar. Só um descendente de portugueses pode falar sobre as grandes navegações, só um alemão pode falar sobre o que foi o nazismo, só um cidadão do leste europeu poderá falar dos horrores do comunismo. E isso é completamente absurdo!

Cultura de Massa para massas falidas

Um dos grandes problemas da cultura de massa na atualidade é que faltam valores, referências e autenticidade. Concordo que ''sucesso'' não é sinônimo de qualidade, mas também isso não quer dizer que tudo que está incluído em uma cultura de massa não tenha valor artístico. No entanto, tenho a impressão que grande parte do que é produzido hoje é puramente e mais do que nunca, comercial, no pior sentido do termo, seja no Brasil como no exterior.

Acho que houve uma grande ruptura da segunda metade da década de 1990 em diante, com o retorno das boys e girls bands (como Backstreet boys e spice girls) e massificação do hip hop, que atualmente é uma das maiores aberrações culturais. Muito longe em termos de qualidade sonora e artística da fantástica música negra produzida nos anos 1960 e 1970 por nomes como Quincy Jones, por exemplo.

No Brasil, a produção de nossa indústria cultural se deu pela dominação do axé, pagode, sertanejo e o por fim, o funk, ali comendo pelas beiradas.

Hoje, o chamado sertanejo universitário, que é a ultra comercialização e imbecilização da música caipira, o pavoroso funk ostentação e o gospel têm dominado as paradas de sucesso. A venda e comercialização de CDs se tornou algo totalmente secundário e a internet é o principal canal de comunicação entre os profissionais do entretenimento e seus públicos! Na música pop vemos o sucesso assustador de boy bands coreanas.

Reitero que o problema não é (totalmente) o estilo (também é), mas a baixa qualidade e a, na minha visão, falta de autenticidade desses grupos e "artistas" (aos quais eu prefiro chamar de profissionais do entretenimento. Claramente grupos criados por super produtores com músicas de baixa qualidade, performances de palco com atitudes superficiais, excesso de dança e coreografias e telões. Muita informação e pirotecnia para disfarçar os astros sem substância que pulam no palco.

E quanto aos relativizadores pós-modernos que afirmam que não podemos comparar diferentes formas de arte, nem fazermos juízos de valor sobre os diferentes graus de qualidade e importância das mesmas... sem paciência para eles!