JollyRoger 80´s

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terça-feira, 11 de agosto de 2020

Black is King & Money is Black. Beyoncé, censura, conflitos raciais e outros absurdos.


Então agora uma pessoa branca não pode fazer uma crítica a uma pessoa negra? 

A novidade é que, mesmo as pessoas do movimento negro não admitindo, o "lugar de fala" é usado como uma forma de desconsiderar as opiniões das pessoas que discordam, que tem opiniões diferentes sobre um assunto e de tornar algumas idéias mais válidas, mais "corretas" ou mais legítimas do que outras. Resumindo, censura e policiamento do pensamento.

Beyoncé é uma artista superestimada que, provavelmente com a ajuda de seus empresários e pessoal do marketing, começou a utilizar as lutas sociais como peça promocional para suas músicas e videoclips (que eu considero bregas). 

Geralmente as letras de suas canções não abordam uma questão social ampla, mas se apresentam como desabafos/provocações, autopromoção e ostentação financeira. É o que temos aqui no Brasil com o funk ostentação. E representam os piores e mais desprezíveis valores morais e comportamentais do capitalismo. O culto à personalidade de profissionais do entretenimento chegou à níveis alarmantes.

Pela reação das pessoas que criticaram a historiadora e antropóloga (dentre eles a tal da Iza, cantora e modelo, que vive postando fotos sensuais no instagram), nós podemos perceber os perigos dessa gangue de militantes canceladores e de como pessoas inseridas nessas militâncias estão empenhadas em aparentemente criar uma sociedade realmente dividida. Elas são tão entusiastas dos negros dos Estados Unidos que querem também importar a realidade de cisão racial deles para o Brasil. 



Liberdade de expressão


Beyoncé é livre para faturar milhões do jeito que ela quiser, seja fazendo seus vídeos de ostentação financeira disfarçados de empoderamento ou também utilizando mulheres orientais pobres pra costurar sua linha de roupas. Assim como a historiadora Lilia Schwarcz e qualquer outra pessoa, de qualquer cor de pele, é livre para fazer sua análise e dar suas opinião.

Mas quando as críticas ao posicionamento da historiadora se transformam em acusações de racismo ou usam da cartada do "lugar de fala", o debate saudável é impedido, desqualificado e a opinião contrária criminalizada. É até educativo que isso ocorra para essa turma acadêmica deslumbrada sentir na pele o perigo do autoritarismo do "bem".

A suposta carta na manga do  "Lugar de fala" 

A cartada do "lugar de fala" têm como função impedir um debate e silenciar opiniões contrárias. Pessoas afirmam que um branco não pode querer ensinar aos negros sobre suas lutas. Por esse pensamento, nada mais justo que um branco poder afirmar que um negro não pode querer ensinar como um branco deve agir, pois somente um branco sabe o que é ser branco no Brasil. 

Se levarmos a sério esse conceito, logo nenhum historiador que não seja descendente de portugueses poderá falar sobre as grandes navegações, pois não têm lugar de fala. Nenhum fanático marxista poderá continuar defendendo o comunismo se não viveu na União Soviética, pois não terá lugar de fala. Ninguém que não seja político poderá criticar algum, pois se você não sabe como é o dia a dia no congresso você não possui lugar de fala. E por aí vai!

Na minha opinião, os artistas negros do passado, são bem melhores e mais relevantes do que esses rappers e cantoras pops atuais. Por uma série de fatores, tecnológicos inclusive, os artistas e profissionais do entretenimento atual, são amplamente divulgados, massificados, principalmente os provenientes dos Estados Unidos. Isso não significa que têm produzido algo realmente relevante e de qualidade e que irá permanecer para a posteridade. 

Por fim, acho que pode, sim, existir a crítica ao modus operandi da luta de qualquer grupo e movimento social. Algo que tente inibir ou proíba isso se chama censura e controle de pensamento. Mas Lilia Schwarcz baixou a cabeça para a militância e pediu desculpas. Concordou que existem limites para o que alguém pode opinar devido à cor de sua pele. Permitiu que suas opiniões a respeito de um assunto fossem desvalorizadas. Péssimo. Mas também não vou julgar, pois deve ser estressante aturar linchamento virtual de fãs de pop stars dos Estados Unidos e canceladores agindo em bando.

Entendo e compreendo o simbolismo que Beyoncé representa. Também entendo como ela é um símbolo enfiado goela abaixo pela máquina de entretenimento norte-americana. Grandes artistas negros de um passado recente, muito mais relevantes e eternos que Beyoncé (Michael Jackson, Tina Turner, Prince, Aretha Franklin, Marvin Gaye, James Brown... ) não tiveram essa roupagem forçada de militâncias.

Um branco não pode querer ensinar a um negro sobre suas lutas e atitudes! Sério?

Se um MC negro faz músicas fazendo apologia às drogas ou ao sexo com menores, qualquer pessoa de qualquer cor de pele pode criticar, orientar, mostrar outras possibilidades de expressão. Assim como qualquer pessoa, de qualquer cor pode criticar o estilo de vida de ricaços brancos do Instagram ostentando riqueza, futilidades e objetificando mulheres.

Você é livre pra falar sobre o que quiser, mas de preferência com empatia, racionalidade e se acreditar que pode realmente contribuir para um debate, para a solução de questões. Assim como é livre para ficar na sua e apenas assistir o circo pegar fogo, independente do que completos imbecis como Felipe Neto digam.


Fui ver os trailers do filme da Beyoncé "Black is King" com a maior boa vontade, mas pela maior parte das imagens do trailer parece ser o mesmo de sempre: caras, bocas e poses, vestimentas caras, sensualizando em cima do capô de carros de luxo, ostentação de mansões, aquele Jay-Z com pose de gangsta e medalhões de ouro no pescoço, letras falando sobre riqueza e posses de mercadorias caras... 

Talvez Beyoncé só saiba fazer isso mesmo. Ser a versão black de ridículos ricaços brancos, fornecendo uma espécie de auto-ajuda visual para quem sonha com poder e riqueza provenientes do capitalismo e delírios de um ancestralidade irreal de sangue de realeza. Mas reitero, ela é livre para se expressar como artista, assim como receber críticas provenientes de todos os tons de pele. 




Pretendo, algum dia, assistir especificamente esse filme e espero realmente que algo diferente tenha sido realizado. Porém, desde já, percebo que um filme que a princípio pode ter sido feito para reverenciar e propagar vários aspectos da diversa cultura africana esteja sendo usado por radicais do movimento negro como justificativa para discursos ressentidos e embates raciais. 


BONUS TRACKS:


https://almapreta.com/editorias/o-quilombo/black-is-king-mulher-branca-nao-deve-dizer-como-mulher-negra-deve-contar-sua-historia

https://vermelho.org.br/2020/08/03/lilia-schwarcz-o-retrato-do-racismo-academico/

https://www.cartacapital.com.br/opiniao/a-conversa-com-lilia-schwarcz-nao-se-encerra-sem-mutua-escuta/





O "lugar de fala" de Djamila Ribeiro

Não desvalorizando o trabalho da moça, mas a teoria que a deixou famosa, o tal "lugar de fala" não é nenhuma novidade conceitual. Tendo em vista que, em um debate histórico e sociológico, nada mais natural que analisarmos os diferentes pontos de vista em uma mesma questão. Ou seja, cada olhar pode agregar valores na construção de um conhecimento.

Mas não é isso que têm ocorrido! A novidade atual é que, mesmo as pessoas dos movimentos sociais, como o movimento negro não admitindo, o "lugar de fala" é usado como uma forma de desconsiderar as opiniões das pessoas que discordam, que tem opiniões diferentes sobre um assunto. E de tornar algumas ideias "naturalmente" mais válidas, mais "corretas" do que outras. Resumindo, censura e policiamento do pensamento. Uma pena. E vai piorar.