O presente texto tem como objetivo reafirmar a importância da preservação, do acesso e constante estudo dos documentos audiovisuais, com especial atenção para os chamados filmográficos/cinematográficos.
As instituições que possuem esses acervos convivem diariamente com o desafio de preservar essa documentação. No entanto, novas tecnologias têm oferecido possibilidades de preservação, mas não sem suscitar novas problemáticas e desafios, como a obsolescência tecnológica.
O Arquivo Nacional, localizado na cidade do Rio de Janeiro, é a mais importante instituição arquivística do país e centro de referência para a Arquivologia. Este apresenta em seu acervo audiovisual um total de 124 mil rolos de película cinematográfica e 4 mil fitas videomagnéticas. Esses documentos audiovisuais (iconográficos, filmográficos e sonoros), são onde a memória nacional é ressaltada, propagada e em certo sentido, eternizada.
O Cinema é uma importante fonte de pesquisa, na medida em que, as tramas dos filmes apresentam representações que caracterizam todo o contexto histórico, social e político de sua produção.
O estudo das
imagens é importante, pois o modo como as sociedades contemporâneas percebem o
mundo está totalmente ligado aos chamados sistemas visuais. Portanto, existem paralelos
interessantes entre o produto fílmico artístico e os Arquivos.
Um determinado arquivo quando devidamente avaliado e conservado acaba por refletir as transformações ocorridas no interior de uma empresa ou instituição. Da mesma forma pode servir de base para o conhecimento do contexto histórico de um período, de um governo e de um país. E um filme pode apresentar discursos e ideologias relacionadas ao contexto histórico de uma sociedade da sua produção.
Por tudo isso, um filme (tanto o ficcional como o documentário) e demais arquivos audiovisuais também devem ser considerados documentos de importância vital para o entendimento de uma sociedade. A questão é:
Será que toda essa importante
documentação encontra-se devidamente preservada? E o usuário tem acesso à ela?
Não deveriam existir mais políticas e ações relacionadas à divulgação desse
material?
Arquivos audiovisuais
O gênero documental é entendido como a reunião de espécies documentais semelhantes em suas características essenciais, como por exemplo, suporte e formato. E os diferentes tipos necessitam de um tratamento técnico específico.
Dessa forma os documentos podem ser:
- textuais
- cartográficos
- audiovisuais (iconográficos, filmográficos, sonoros)
- micrográficos
- digitais
- eletrônicos.
Preservação e acesso de acervos fonográficos
Em seu artigo A preservação e o acesso de acervos fonográficos, Sérgio Albite faz um relato das diferentes etapas, processos e resultados de dois projetos de pesquisa que se destinaram à preservação e acesso de acervos sonoros compostos por discos de vinil e de gomalaca.
O autor ressalta que “O objetivo geral de ambos os projetos foi o de preservar os registros e democratizar o acesso a uma parte do passado musical brasileiro armazenado nos itens das coleções fonográficas tratadas” e ressalta que os acervos em questão fazem parte da memória musical brasileira, pois neles “estão registradas interpretações de músicas brasileiras, compositores, intérpretes, idéias e ideais de diferentes épocas.”[1]
A importância da preservação e do acesso é uma questão atual e até mesmo emergencial da Arquivologia como campo de saber intelectual e técnico. De acordo com Marco Dreer Buarque o reconhecimento da importância dos arquivos audiovisuais como patrimônio cultural é algo recente, assim como a discussão a respeito de sua preservação e difusão para as gerações futuras.
Portanto, é notório a necessidade de preservação desses acervos, mas não são menos importantes os desafios impostos para sua realização.
Os documentos audiovisuais necessitam mediação técnica para seu acesso pleno. Dessa maneira, o profissional de preservação e consequentemente a Instituição detentora devem manter os equipamentos necessários, tendo em vista que os mesmos também estão desaparecendo do mercado rapidamente.
“Adquirir um gravador de rolo de características profissionais não é das tarefas mais fáceis, assim como são cada vez mais raros os técnicos gabaritados para fazer a manutenção e revisão nos equipamentos analógicos. E se os equipamentos vêm desaparecendo das prateleiras, consequentemente as suas peças de reposição também não são facilmente encontráveis.” [2]
Conservação preventiva e digitalização
A preservação de documentos apresenta duas etapas essenciais: a conservação preventiva e a digitalização. A digitalização, porém deve ser uma etapa complementar da conservação preventiva.
O cenário que se apresenta é
preocupante, pois com o fenômeno de crescente obsolescência tecnológica, as
instituições serão obrigadas a manter tanto os equipamentos de leitura
analógicos como também os técnicos gabaritados detentores do conhecimento tanto
digital quanto analógico.
Imagens em Movimento
No Arquivo Nacional o conjunto de imagens em movimento possui importantíssimos registros da história e da cultura brasileira. Desse acervo fazem parte cinejornais, documentários, obras de ficção e recortes de filmes que foram alvo da censura.
Esses acervos são fonte inesgotável para uma série de estudos e investigações acerca da sociedade brasileira, suas crenças, valores culturais, morais, posições ideológicas e contextos políticos.
Obsolescência tecnológica e riscos de preservação
A obsolescência é a característica de
um produto que perde sua utilidade em decorrência do surgimento de outro mais
avançado. Possivelmente uma das questões mais interessantes e emergenciais do
contexto histórico atual sejam os riscos de perda do bem mais valioso de todos
os tempos, a informação.
A sociedade produz e acumula grande quantidade de dados. As informações são produzidas em uma velocidade tão grande que, não há tempo suficiente, energia e recursos financeiros que garantam que a informação seja convertida para novas mídias. Ou seja, novos formatos de tecnologia surgem e os dados não são convertidos em tempo hábil antes que os suportes antigos se tornem obsoletos.
Obviamente o papel não é o único tipo de
suporte documental, assim como não é o único a sofrer as ações destrutivas do
tempo. As fitas magnéticas têm se mostrado um desastre como forma de
armazenamento de dados, na medida em que, muitos problemas se mostram presentes
inesperadamente no momento de sua conversão para novas mídias.
Existem custos para a guarda e se faz
necessária uma política séria baseada em compromissos bem estabelecidos, um
plano consciente e frequente vigilância. Porém, na contramão desse processo
existe o problema da ânsia em querer que tudo seja digitalizado originando
assim o risco duplo de perda.
Conclusão
Por tudo isso, uma das questões mais importantes da chamada sociedade da informação é justamente criar meios que possibilitem a preservação das informações (das relevantes, pelo menos). O Arquivo Nacional organiza mostras de filmes e exposições temáticas, mas a questão que se pretendeu suscitar é se isso é o bastante.
Em um mundo cada vez mais informatizado, de aumento gradual
de criação, circulação de informações e de relações virtuais, talvez o ideal é que
o acervo fosse gradualmente disponibilizado em outras mídias.
As instituições detentoras de acervos
audiovisuais deveriam reafirmar sua função social de guardiões da memória para
além e se configurarem como difusores da memória. Em certo sentido para que a
informação fosse difundida os Arquivos deveriam não descentralizar a guarda,
mas o acesso.
O Arquivo Nacional possui 82 fundos contendo documentos audiovisuais (filmográficos e/ou sonoros). Grande parte encontra-se avaliada e organizada. No caso dos documentos do Imagem em Movimento do Arquivo Nacional que contém:
- cinejornais
- documentários
- obras de ficção
- filmes publicitários e inclusive recortes de filmes que foram alvo da censura
Seria primordial que essas pérolas culturais estivessem (além de preservadas adequadamente) disponibilizadas amplamente em sites como YOUTUBE e até mesmo no site do Arquivo Nacional.
Em um país onde muitos acontecimentos
importantes foram e estão fadados ao esquecimento, onde impera a falta de
memória e o gosto pelo efêmero, os Arquivos precisam adequar-se às novas
oportunidades tecnológicas que propiciem a preservação, o acesso e a
divulgação.
Bibliografia
BUARQUE, Marco Dreer.
Estratégias de preservação de longo prazo em acervos sonoros e audiovisuais. In
: ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL (9:2008; São Leopoldo, RS). Anais... Rio
de Janeiro: Associação Brasileira de História Oral ; São Leopoldo, RS :
UNISINOS, 2008.
COSTA, Alessandro Ferreira. Gestão Arquivística na era do cinema digital: Formação de acervos de documentos digitais provindos da prática cinematográfica. Belo Horizonte, Escola de Ciência da Informação da UFMG, Março de 2007.
LOPEZ, André Porto Ancona. O Contexto arquivístico como diretriz para a gestão documental de materiais fotográficos de arquivo. Universidade de Brasília, UNB
SILVA, Sérgio Conde de Albite. A
preservação e o acesso de acervos fonográficos – relato de pesquisa
[1] SILVA, Sérgio Conde de Albite. A preservação e o acesso de acervos fonográficos – relato de pesquisa
[2] BUARQUE, Marco Dreer. Estratégias de
preservação de longo prazo em acervos sonoros e audiovisuais. In : ENCONTRO
NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL (9:2008; São Leopoldo, RS). Anais... Rio de Janeiro:
Associação Brasileira de História Oral ; São Leopoldo, RS : UNISINOS, 2008.
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