JollyRoger 80´s

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quinta-feira, 9 de julho de 2020

Depredando e cancelando a História. O inferno é o limite!

Várias estátuas continuam sendo depredadas, à princípio em decorrência da revolta causada pelo imperdoável assassinato do cidadão George Floyd. Mais uma vítima da brutalidade policial nos Estados Unidos. 

Mural em homenagem à George Floyd em Chicago

No entanto, poucas semanas depois, pode-se afirmar que o movimento já saiu do controle em cidades americanas e europeias e outras questões e anseios já tomaram o lugar das manifestações antirracistas. E a questão não é defender estátuas e não se preocupar com a violência sofrida por determinados grupos. O que é perigoso são os rumos que as revoltas podem tomar. 

Começar a destruir monumentos, prédios, empreender uma luta pela desmoralização de figuras históricas, cancelamento de filmes, livros, obras de arte etc não é o caminho certo. E é exatamente esse rumo bizarro que as coisas vão tomar. 


    Edward-Colston-escravocrata-estatua-revista exame

Entendo que a resposta para quase todos os problemas sejam a melhoria e investimento pesado na educação. E sim, os governos no Brasil não estão muito interessados nisso. Mas a reformulação da educação tinha que ser geral mesmo, inclusive na mudança de postura dos profissionais.

Infelizmente, é sim uma realidade que grande parte dos professores não estimulam muito o pensamento crítico dos alunos, mas são ferrenhos divulgadores apenas ou quase totalmente de ideologias progressistas, marxistas. 

Não generalizando obviamente, mas é notório que muitos radicais estão concordando com a destruição de estátuas e essas censuras em filmes. E isso sim é uma forma de intolerância, radicalismo. Como em 1984 de George Orwell estamos quase sob um estado de polícia do pensamento. 

Todas as criações, atitudes e pensamentos humanos são consequências diretas do contexto histórico. Se permitirmos que uma ou duas estátuas sejam destruídas isso fatalmente gerará uma reação em cadeia e sempre surgirão argumentos para que mais e mais coisas sejam destruídas, censuradas, canceladas. 

E convenhamos, quem são essas pessoas pra afirmar o que deve ou não ser cancelado e proibido? 


Pelos comentários no Facebook várias pessoas afirmam que a estátua do bandeirante Borba Gato em São Paulo deveria ser destruída, uma outra já aproveitou e acusou a obra de Monteiro Lobato de ser racista. A solução é seguir por esse caminho pretensamente revolucionário de destruição e apagamento? 

Porém, li muitas opiniões condenando essas depredações e propondo que essas estátuas fossem colocadas em um museu com informativos contextualizando a época e os motivos de suas criações. A criação de uma estátua, a realização de uma homenagem à uma figura histórica é resultante do contexto histórico de sua produção. 

Recentemente, um grupo de mais de 150 intelectuais, muitos identificados como progressistas inclusive, causaram polêmica com a apresentação de uma carta aberta onde justamente criticavam as atitudes intolerantes e radicais da Esquerda e as perseguições e cancelamentos do pensamento politicamente correto. 


Em uma sociedade liberal a suspensão do debate, das discordâncias e do contraditório colocam em xeque nossa individualidade e liberdades democráticas. Mas vale lembrar que total liberdade nunca foi uma realidade em sistemas de governo comunistas. 

Realmente não se estuda História destruindo os registros da mesma. E se permitirmos que se derrube a primeira para saciar anseios e com a justificativa de reparar, "consertar" atos considerados vilanescos pelo olhar da nossa época, onde iremos parar com os "consertos" e "remendos" históricos? Quem sabe errando mais ao tentar consertar. 

E citando o exemplo das revoltas causadas pela permanência de estátuas de bandeirantes em São Paulo, sempre vai ter um grupo pra se ofender ou se sentir ofendido por alguma coisa. Primeiro, o bandeirante, depois o Imperador, logo a estátua do músico erudito, logo o livro do escritor X, depois o filme do diretor Y, e por aí vai. Para a cultura do cancelamento O inferno é o limite! 



É possível encontrar no facebook e instagram postagens enxergando abuso sexual com a Branca de Neve e outros sugerindo pedofilia na música Garota de Ipanema de Tom Jobim. Surreal! 

É aqui onde mora o perigo: Quando determinados grupos radicalizam suas convicções e querem impor suas verdades para toda a sociedade.


Estátua do padre Antônio Vieira em Portugal. Para alguns defensor dos indígenas e contra a escravidão. Para outros condescendente com a escravidão. Quem está certo? 


Vale ressaltar que existe uma tendência desses movimentos sociais de enxergarem luta de classes e opressão em tudo! É uma visão muito maniqueísta da História, que analisa toda a complexidade humana sob a equação não exata "Opressores x oprimidos". 

E um dos caminhos para, digamos que ocorra, (com o perdão do termo), justiça social, seriam mais estudos e produção de conhecimento sobre os ditos oprimidos da História, criação de estátuas e homenagens para figuras notórias negras, mulheres etc. 

Mas não é necessário que a valorização da história de um grupo venha aliada ao desmerecimento do valor de outro. E sinceramente, tentar desvalorizar a história européia chega a ser risível. E não preciso lembrar (ou talvez precise) que a história do Brasil está totalmente ligada à Europa, assim como à África.


Na imagem, estátua sendo destruída pelo Estado Islâmico. Existem paralelos com a destruição no Ocidente?

Esses grupos radicais, sejam Antifas, anarquistas, antifascistas, antinazistas, representam a vontade da maioria? E mesmo que fosse uma vontade da maioria, apagar a História nunca seria o caminho certo. 



Então, em um primeiro momento é totalmente compreensível e necessário as revoltas e atitudes contra esse terrível assassinato. Esse tipo de coisa não pode mais acontecer. Mas, passado o calor do momento, precisamos, enquanto sociedade democrática, refletir, debater e construir novas pontes. E não insuflar mais discórdias, radicalismos e ressentimentos sociais e raciais. 


BONUS TRACKS:

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