Roma era considerada a "Cidade" no período do Império. Um poderoso centro de convergência tanto dos ocidentais como dos orientais que estavam sob seu domínio. Essa metrópole superpovoada e cosmopolita incorporou muitos elementos estrangeiros, como por exemplo dos gregos e de outros povos orientais. Esses povos agregaram-se à Roma, lugar de inúmeras tentações.
Uma das medidas para abarcar toda essa gente foi o aumento de sua superfície. Ao anexar os subúrbios, o Primeiro Augusto cria uma Roma com catorze regiões. Um crescimento substancial se comparado com as quatro regiões da época republicana.
No entanto, não houve um aumento no nível de organização. A população não foi distribuída de maneira satisfatória, de modo que os ricos construíam mansões nos jardins que cercavam a cidade enquanto que no centro, se faziam presentes a massa de miseráveis.
Roma era a cidade dos contrastes onde a exagerada ostentação convive com a mais vergonhosa pobreza. A vida, em geral, era complicada. Não era raro as catástrofes que se abatiam sobre a população como terremotos, inundações e fome. Esta última geralmente originando explosões de violência. As epidemias, quando surgiam, não se restringiam somente aos bairros pobres. E os incêndios regularmente destruíam partes da cidade.
Não há paz na cidade, pois Roma é barulho. As ruas são tomadas por populares, comerciantes, carruagens, pelas mercadorias expostas e por barracas. Também são palco para espetáculos de saltimbancos, charlatães, adivinhos, mendigos (adultos e crianças). Ou seja, uma confusão generalizada.
Os bosques sagrados são o principal refúgio para os tipos marginalizados: miseráveis, ladrões e os que professam religiões suspeitas. (os primeiros cristãos refugiaram-se nesses esconderijos).
Não é de hoje que os vagabundos e canalhas mais inteligentes usam da religião para enganar uma numerosa classe dos tolos. Nas ruas de Roma estes apresentam-se como filósofos, adivinhos, astrólogos e magos que tiram proveito da superstição inerente aos romanos.
Um dos divertimentos dos ricos romanos no Império era a Cena. Assim como os gregos, os romanos realizavam o banquete. Essa cena tinha por objetivo como grande arte dar uma aparência diferente aos alimentos. A cena é o mundo do teatro e da ilusão. Essas festas contavam com equilibristas, musicistas tocando flautas, dançarinas sensuais e figuras grotescas.
Como grande atração tem-se as "Dançarinas de Gades" que movem-se libidinosamente executando danças de origem ibérica. Fazendo uso de castanholas, dando gritinhos obscenos ao requebrar o traseiro, elas procuravam excitar ao máximo os convidados.
Muitos se dizem sacerdotes de divindades orientais como Ísis, que tornaram-se familiares aos romanos após o século II A.C . Fazendo uso de gritos, danças, disfarces chamativos e até mesmo de mutilações os impostores conseguem seu sustento por meio da arrecadação das moedas dos que conseguiram impressionar.
Roma constitui-se por multidões de tolos que se vêem agregados pelo mais fútil motivo, adeptos da ociosidade ou de pequenos trambiques. Uma multidão imprevisível e brutal que irrompeu freqüentemente em atos de violência. Com toda revolta e raiva acumulada, basta um incidente qualquer para desencadear a destruição (como quando Calígula divorciou-se em 39 ou quando Nero repudiou Otávia em 62).
Esses tumultos entre gangues no final da República abrem os olhos das autoridades para o perigo das milícias privadas. Esses líderes políticos com homens armados tiveram seu fim por Augusto. No entanto, ocorreram a formação de associações, agora criminosas.
Esses bandos agrupam-se sob a designação de "Colégios". E dissimulando-se sob a cobertura de grupos religiosos realizam tráfico de homens livres. Tanto Augusto como Tibério tomaram providências que por um determinado momento foram eficazes contra esses grupos.
Não existia iluminação pública e não são muitos os que se arriscam atravessar a cidade na escuridão. E ao fazê-lo, estão acompanhados de escravos armados. De noite, Roma é território dos marginais, dos ladrões, dos bêbados e dos arruaceiros.
As ruas do centro são mais seguras, mas os terrenos da periferia são palco para atividades suspeitas nas sombras. Os marginalizados faziam de asilo a zona dos túmulos, dos cemitérios e dos crematórios, lugares estes temidos pelos cidadãos romanos.
Uma grande necrópole existia até o reinado de Augusto. Nela estão as fossas onde são depositados os cadáveres de indigentes, escravos e condenados. O cenário macabro é composto de túmulos, ossadas, restos de corpos e os cães, urubus e lobos são visitantes frequentes, assim como os escravos que trabalham nos crematórios, os saqueadores de túmulos que roubam os alimentos deixados, ladrões perigosos, mendigos e prostitutas.
Muitas feiticeiras perambulam pelos cemitérios recolhendo ossos ou ervas para criar poções e praticar magia branca ou negra . Alguns rituais foram descritos por Horácio e também por Cícero ( como a necromancia, criação de amuletos e sacrifícios).
Bibliografia:
ResponderExcluirSALLES, Catherine. "Nos Submundos da Antiguidade". Tradução: Carlos Nelson Coutinho. 1° edição, 1982. Editora Brasiliense.
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