A frase "A História é feita pelos vencedores" muitas vezes parece ser uma máxima inquestionável. Em grande parte, acabamos ouvindo falar deles, só lemos sobre e só vemos filmes sobre eles. Exageros à parte, sabemos que não é bem assim, mas devemos ter em mente que na maioria dos casos é o ponto de vista dos mais favorecidos que permanece sob os holofotes da História.
Com frequência, uma nação inteira é simbolizada por um único personagem. Fazendo uma busca minuciosa (no caso, a ambientação grega e romana), Catherine Salles no sua obra "Nos Submundos da Antiguidade" chama atenção para os personagens mudos da História.
Os marginalizados, ladrões, prostitutas, comerciantes desonestos, gladiadores, escravos, homens simples, feiticeiras, charlatães, jogadores, artistas. Figuras componentes da sociedade sem grande destaque na historiografia, mas que são essenciais para uma visão mais completa e satisfatória do que foi o Mundo Antigo. É muito agradável se esbaldar com os grandes pensamentos dos filósofos gregos, maravilhar-se com toda a beleza da cultura helenística e com as grandes construções do Império Romano.
No entanto, não menos interessante é mergulhar de cabeça na podridão, na lama e no sangue onde essas duas fantásticas civilizações solidificaram suas bases. E acima de tudo, perceber o quanto nossa sociedade assemelha-se com todo o "lixo" e a fúria greco-romanos.
Habitando os bairros pobres de Atenas, Alexandria ou Roma, os desfavorecidos representam o descaso, o abandono e todas as falhas da estrutura social. Frutos podres de uma sociedade com um terrível desequilíbrio econômico, essa população teve seus direitos básicos limitados graças à uma serie de privilégios concedidos à uma minoria.
A autora destaca uma espécie de vazio social, elemento este que caracterizaria esses milhares de indivíduos que não pertencem à nenhuma classe e ressalta a dificuldade encontrada pelos historiadores em vasculhar detalhes sobre essas populações. Ao que parece, os Antigos (principalmente os gregos) não se ocuparam muito destes assuntos desinteressantes como: pobreza extrema, a prostituição e as formas de prazer oriundas desse mundo.
Catherine Salles adverte sobre a suposta exatidão dos fatos narrados pelos textos dos autores antigos, afirmando que eles jamais se interessaram sinceramente pelos problemas morais, pelas questões de higiene física ou mental dos submundos de suas cidades. Portanto muitos acontecimentos podem ter sido relatados de maneira tendenciosa e preconceituosa.
A autora afirma que a busca incessante pelo prazer surge muitas vezes da violência e gera cada vez mais violência. O prazer na Antiguidade só existiria graças aos indivíduos miseráveis e explorados. Um pouco exagerado a meu ver. Em parte, a afirmação da autora faz algum sentido, visto que em várias relações amorosas existe um dominador e um dominado.
No entanto, percebo na forma como ela analisa um certo viés marxista, que tenta enxergar TUDO através da lente da "luta de classes", "opressores e oprimidos". Ou seja, um pouco limitante, pois retira da análise histórica justamente o livre-arbítrio e sagacidade dos "oprimidos", dos habitantes dos submundos romanos.
O prazer e a violência, a riqueza e a miséria. Por mais absurdo que pareça, um não existiria sem a presença do outro. Os romanos em especial perceberam e assimilaram esses paradoxos muito bem e com toda a sua exagerada filosofia de vida puderam tirar deles todo tipo de perversão e diversão, criando assim uma de suas maiores heranças para as futuras civilizações.
O início da filosofia é o começo do pensamento ocidental (técnico-científico, objetivo, sistemático etc.) - o que não significa que não se possa utilizar a filosofia à pesquisa da evolução clandestina do pensamento (principalmente no que diz respeito à moral e aos costumes); ao que "corre às margens" do considerado "oficial", fora de qualquer organização.
ResponderExcluir[puxando a brasa pra minha sardinha]...
por exemplo,o pensamento crítico/cético do século XVIII num momento em que o otimismo racional era o marco.
Diderot, Montaigne, Sade ("os melhores dos melhores do mundo" em... frear o otimismo ingênuo de todos os temos! rs).
;)
*tempos
ResponderExcluirFrear o otimismo ingênuo? Diderot joga no meu time. Aliás, eu que jogo no time dele. Ou melhor, você é que joga no time dele e eu observo atentamente do banco!
ResponderExcluirQuem diria eu fazendo metáfora com futebol. rs
Me parece que estamos vivendo um momento cada vez mais parecido com o declínio da Roma imperial: libertinagem, saciedade, consumo e ostentação desenfreados, busca incessante por emoções novas... Francamente, não é difícil imaginar um Big Brother em Roma... E afinal, não seria o violento UFC um novo circo?
ResponderExcluir