JollyRoger 80´s

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sábado, 24 de dezembro de 2011

Indústria da Moda e do Sexo Anoréxico parte II

Essa postagem é uma continuação da discussão iniciada em ''Indústria da Moda e do Sexo Anoréxico". Leia a primeira parte! 

Roger Marques_ Não concordo que essa questão possa ser chamada de "falso problema". Entendo que a indústria cinematográfica esteja vinculada à da moda e que o objetivo antes de criar arte seja criar lucro. Pelo menos da parte dos financiadores das indústrias e não dos artistas necessariamente. Modelos serem desprovidas de alma e corpo parece que sempre foi regra. O curioso é esse padrão ter se estendido para a vitrine do cinema, na medida que o modelo anoréxico não é o mais atraente para os consumidores imagéticos de mulheres.



O ponto central é: No cinema eles querem vender sexo! Em grande parte dos casos é um sexo pausterizado. No cinema pornô é sexo, exacerbado, exagerado e cheio de supostas idealizações e fetiches. 

Por mais interessante que seja eu questiono as afirmações de Deleuze sobre a anorexia ser um ato político de não sujeitamente à regras. Isso é questionável. Enxergo a auto-flagelação do anoréxico não como uma negação das normas, mas talvez como a aceitação total a certos padrões impostos. E quando Deleuze fala da anorexia como sendo um ato político, como sendo um protesto feminino ele confere à doença um caráter ideológico. Enquanto que um doente pode ser apenas um fraco sem noção das consequências de sua talvez alienação e baixa auto-estima. 


Marcela Fernandes_ Tenho minhas dúvidas se o cinema hollywoodiano – pelo menos o de agora – cria arte no sentido original dessa palavra. Se se restringe o sentido de “arte” a efeitos 3D e a outros artifícios "fodásticos" e ensurdecedores da tecnologia, pode até ser que Hollywood produza arte (a qual, particularmente, não me agrada muito).



Desconfio também se a atriz/artista hollywoodiana tem autonomia para não querer se enquadrar no padrão de beleza ditado por essa indústria. Ainda que elas façam um filme “cult” (que foge um pouco dos temas e efeitos batidos), não permanecem nessa linha, não é vantajoso pra essa atriz criar carreira aí, não dá bilheteria.



Estão sempre à procura de papéis que coloquem sua imagem destacada. Atores/filmes alternativos não são vetores por onde a indústria da moda possa propagar seu poder, enfim. E, por isso, nem sei se vejo com nitidez uma separação entre os objetivos da indústria de moda (seus financiadores) e os dos artistas. Os interesses já estão, há muito, entrelaçados, confundidos.

Nem sempre foi regra as modelos serem “desprovidas de alma e corpo”, como você disse. A magreza como sinônimo de beleza, na moda, vem dos anos 90 pra cá, acredito.  Assisti a uma entrevista da lindíssima (e não magérrima!) Luiza Brunet relatando como era a “beleza” em sua época de passarela: curvas, coxas, quadril, cintura e peitos! E se voltarmos mais no tempo, a beleza vai ficando mais roliça ainda! 



De novo: não acho tão curioso assim o fato da magreza anoréxica ter se propagado no cinema, já que cinema hollywoodiano e moda caminham lado a lado (e a moda de agora é a magrelice!)... E o fato de não achar tão curioso não significa que não me espanto com a magreza de certas atrizes. Também acho estranho! É de fechar os olhos!  “(...) na medida que o modelo anoréxico não é o mais atraente para os consumidores imagético de mulheres.” (suas palavras).



Eu acho que você tá sentindo falta de sex appeal nas atrizes de filmes “normais”. Você disse: “No cinema eles querem vender sexo!”... 

Não acredito que a intenção de agora, de Hollywood, ainda seja essa (pelo menos não é essa a primeira intenção de venda). Lembra do que o Zizek fala da falta de cenas de sexo nos filmes, naquele vídeo que mandei pra você trocentos anos atrás? Dê uma olhada na análise dele. É bem interessante e pode contribuir com essa questão, quem sabe?

Quanto a Deleuze... é uma outra abordagem. Só citei pra fazer um link com outros assuntos. 


Roger Marques_ Não se esqueça que não podemos generalizar totalmente! Alguns poucos cineastas e atores ainda fazem trabalhos interessantes, artísticos. Mas como no geral a maioria faz produtos puramente comerciais acredito que podemos dizer que essa seja a regra da Hollywood atual. E sexo é o que mais é vendido sim. 

No cinema e principalmente na música! Quando abordo a poderosa indústria da moda tenho em mente o contexto internacional que preza por esquelética estética. No Brasil a mulher farta, a chamada "gostosa" ainda é status quo. 







As observações de Zizek dizem respeito à uma nova tendência conservadora. Dessa não atividade sexual entre os personagens dos filmes. Dos anos 80 para trás isso já ocorria, mas somente se o casal protagonista fossem de etnias diferentes. São raros os filmes em que um negro levava uma branca para cama. 

Talvez essa negação do sexo entre os personagens dos filmes seja uma alegoria que expresse a falta de apetite sexual que as anoréxicas possam causar nos homens. Falando sério, quando digo "consumidores de mulheres" é em tom de ironia, afinal todos somos consumidores da indústria cultural, cinema e suas atrizes inclusos. 

Luiz Fabiano Tavares _ Fantástica discussão! Concordo com vocês, sexo e mulheres são tratados como mercadorias. Aliás, há muitas décadas, André Malrauxjá dizia que a droga dos chineses era o ópio, a droga dos árabes o hachiche, e a droga ocidental, a mulher. 

Creio que talvez seja mais acertado dizer, no caso da indústria cultural, que o sexo é o produto, e as mulheres a embalagem. E, como sabemos, nem sempre a embalagem e o produto são uma coisa só. Pelo contrário, muitas vezes a embalagem é feita para ocultá-lo, eclipsá-lo.


Aliás, retomando a metáfora de Malraux, o sexo é a verdadeira droga, nesse caso; a mulher, então, seria apenas o papelote! rs Como droga, é consumido pelo efeito estupefaciente, para que o usuário escape, momentaneamente, da sua vida de merda e goze (com trocadilho) de alguns breves momentos de “felicidade”. 

Creio que cada vez mais o sexo seja a “grande realização” de literalmente milhões de pessoas que nada realizam. Afinal, que é o “pegador”, senão alguém que esqueceu do prazer do sexo para se tornar mero acumulador de fichas num cassino imaginário?

Sexo virou trabalho: tem que se produzir em quantidade cada vez maior, sem esquecer do desempenho e da produtividade, é claro.  Embora a maioria das pessoas não seja “profissional do sexo”, está se formando uma multidão de “operários do sexo”. Só falta bater cartão de ponto! Em lugar de experiência gratuita, relaxada, refazedora, livre, torna-se uma atividade “regulamentada” por inúmeras metas de produção.



Em certo sentido, podemos pensar no sexo enquanto atividade alienada ou como fetiche, não numa conceituação freudiana, mas marxista. Como o operário industrial, o “operário do sexo” produz uma “mercadoria” em que não se reconhece, porque não é sua; a produziu atendendo aos interesses de um capital que lhe é externo.

Por outro lado, é fetiche como a mercadoria também o é, a saber, algo feito e criado pelo homem, mas que o domina, torna-se objeto de adoração externa e distanciada; vem de dentro dele, mas está fora dele. Aliás, é sempre interessante lembrar da origem do conceito de fetiche, os ídolos das “culturas primitivas”, imagens de barro feitas pelo próprio homem, mas que o dominam.



Após essa longa deambulação, voltemos à industria hollywwodiana, aos pornôs, etc. Talvez a resposta seja mais simples que parece. Para diferentes setores do “mercado”, mercadorias diferentes. Há muitos interesses envolvidos, muitas indústrias diferentes (da moda, dos cosméticos, dos farmacêuticos, do sexo). Cada produto precisa da embalagem correta para ser vendido. Nada mais natural que diferentes mulheres-embalagem sejam usadas para verder produtos diferenciados. 



Para a indústria farmacêutica ávida de vender medicamentos para emagrecer, embalagem-mulher-magra. Para a indústria do sexo (aqui no sentido mais amplo), embalagem-mulher-farta. Aliás, devemos levar em conta que mesmo o sexo-mercadoria é vendido para públicos diferentes, especialmente mulheres e homens. 

O desejo feminino em relação à mulher-embalagem é necessariamente diferente do masculino. Para o homem, objeto de consumo; para a mulher, paradigma. No fim, tudo se vende, e quanto menos satisfeita fica a multidão de consumidores, melhor para a indústria. A indústria não odeia nada tanto quanto o consumidor satisfeito, no sentido existencial da palavra; este, afinal, é alguém que não volta a consumir.




2 comentários:

  1. Meu amigo,
    Quando comecei a ler o que você estava falado sobre manifestação, pensei que você era um retardado, mas ao vasculhar todo seu blog, vi que você é o cara, parabéns! Não pare, o Brasil precisa disso e muito mais.

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  2. Bem Anônimo... obrigado! rs
    Mas o que exatamente você não concordou sobre manifestação? Você se refere às manifestações do ano passado no Brasil?

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