JollyRoger 80´s

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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Os grandes pensadores (?) contemporâneos


Sinal dos tempos quando pessoas defendem o não uso em sala de aula de filósofos, historiadores, estudiosos, ou seja, dos popularmente chamados grandes pensadores, argumentando que eles não se aplicam à "realidade" dos alunos, principalmente se estes pertencem às classes pobres. É claro que uma aula se torna mais interessante quando uma gama ampliada de assuntos e realidades é abordada, mas o discurso de que o educador tem que se adaptar a esta ou aquela realidade do aluno ou só fazer uso de informações ligadas diretamente ao universo (muitas vezes "limitado") do adolescente é incoerente.

Muitos que defendem essa ideia não percebem como essa escolha é prejudicial, preconceituosa e desonesta. Para começar já consideram que as pessoas estão presas à um determinismo cultural, social. E são incapazes de vislumbrar qualquer coisa diferente daquele senso comum comportamental padronizado. E afirmar que os tais “grandes pensadores” (mesmo os dos séculos passados) não têm nada a dizer sobre a sociedade e sobre a miséria humana é a desculpa de quem não conhece, não quer conhecer, tem preguiça ou algum tipo de incapacidade.  Teme-se o que não se conhece. Não é o que diz o ditado?

Uma música (não importando o estilo), filme ou programa de TV pode e deve ser usado como questão de prova, mas visando uma análise filosófica conceitual sobre o tema. Não no estilo ''complete a frase'' ou ''verdadeiro ou falso''. Uma canção de protesto de Chico Buarque (ou outros chatos) pode ser utilizada para exemplificar o contexto histórico de determinado período, mas não para que o aluno demonstre conhecimento sobre os versos da música.

Há cerca de dois anos atrás em um concurso, foi cobrado dos participantes conhecimentos a respeito do que acontecia no Big Brother Brasil. Se hoje em dia para fazer uma prova é necessário ser especialista em lixo cultural significa que realmente chegamos ao fundo do poço. A palavra de ordem é nivelar por baixo. O tal professor de Brasília queria aparecer e conseguiu ao usar trechos de funk em uma prova. De quebra possibilitou que uma onipresente funkeira carioca fosse mais uma vez relacionada à questões de educação. 

Há tempos atrás também foi noticiado que a mesma era tema de pesquisa de mestrado. A mestranda concedeu entrevistas mesmo sem ter escrito uma linha sequer. A carta emocional da mesma defendendo sua pesquisa já é um indício do nível do futuro trabalho. No entanto, não vai me surpreender se ainda for publicado. Sabe se lá como essas pessoas surgem para a fama. Geralmente conhecem algum jornalista ou orientador influente. E no final todos saem ganhando.

É uma pena as pessoas insistirem tanto consumindo produtos que sinceramente não contribuem muito para qualquer tipo de emancipação e engrandecimento cultural. Você nasce condenado em um ambiente que te força a ser apenas um animalzinho trepador e quem deveria te ajudar na expansão dos pontos de vista reforça ainda mais sua condição de miséria física e intelectual.

Como não se pode mais resolver o problema das favelas se faz uma propaganda pesada de que ser favelado é bom (com direito a extensa matéria no Fantástico sobre a nova classe média dos morros). Como não se investe dinheiro na educação se incentiva que o aluno não pense, não leia e apenas reproduza as ideologias individualistas, consumistas e de ostentação.

E como é fácil doutrinar! Como tem se mostrado fácil e eficiente essa fábrica de gente de dentes dourados, coração frustrado e cabeça cheia de lixo. E por aí vamos descendo ladeira abaixo tendo em vista que a alienação e a imbecilização não é um privilégio apenas dos pobres e miseráveis. Nossos ricos estão aí e não me deixam mentir. Todo tipo de manifestação de uma sociedade, as ideias, folclore, comportamentos são sim culturais. Nem tudo é política, mas quase tudo é cultura. 

O problema é quando se torna um pecado você atribuir valores às coisas. Ou redefinir certos conceitos. O lixo não precisa ser proibido, mas por que não incentivar que se conheça o luxo? O maior erro desse país é a baixa auto estima. É nós damos um grande valor ao que fazemos de mais vergonhoso e tosco. 

Portanto, fica a questão: para ser um pensador basta pensar? No que se "pensa"? Para ser considerado um cantor basta gravar uma música? Para ser considerado um artista basta subir em um palco e simular relações sexuais? Bem, eu acho que não. Mas o que é a minha opinião em relação ao que nossas autoridades, nossos diretores de programação da televisão, nossos acadêmicos equivocados e pedagogas deslumbradas pensam? E sim, eles pensam. São os grandes pensadores contemporâneos.


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