Sinal dos tempos quando pessoas defendem o não uso em sala de
aula de filósofos, historiadores, estudiosos, ou seja, dos popularmente
chamados grandes pensadores, argumentando que eles não se aplicam à
"realidade" dos alunos, principalmente se estes pertencem às classes
pobres. É claro que uma aula se torna mais interessante quando uma gama
ampliada de assuntos e realidades é abordada, mas o discurso de que o educador
tem que se adaptar a esta ou aquela realidade do aluno ou só fazer uso de
informações ligadas diretamente ao universo (muitas vezes "limitado") do
adolescente é incoerente.
Muitos que defendem essa ideia não percebem como essa escolha é
prejudicial, preconceituosa e desonesta. Para começar já consideram que as
pessoas estão presas à um determinismo cultural, social. E são incapazes de
vislumbrar qualquer coisa diferente daquele senso comum comportamental
padronizado. E afirmar que os tais “grandes pensadores” (mesmo os dos séculos
passados) não têm nada a dizer sobre a sociedade e sobre a miséria humana é a
desculpa de quem não conhece, não quer conhecer, tem preguiça ou algum tipo de
incapacidade. Teme-se o que não se conhece. Não é o que diz o ditado?
Uma música (não importando o estilo), filme ou programa de TV
pode e deve ser usado como questão de prova, mas visando uma análise filosófica
conceitual sobre o tema. Não no estilo ''complete a frase'' ou ''verdadeiro ou
falso''. Uma canção de protesto de Chico Buarque (ou outros chatos) pode ser
utilizada para exemplificar o contexto histórico de determinado período, mas não
para que o aluno demonstre conhecimento sobre os versos da música.
Há cerca de dois anos atrás em um concurso, foi cobrado dos
participantes conhecimentos a respeito do que acontecia no Big Brother Brasil.
Se hoje em dia para fazer uma prova é necessário ser especialista em lixo
cultural significa que realmente chegamos ao fundo do poço. A palavra de ordem
é nivelar por baixo. O tal professor de Brasília queria aparecer e conseguiu ao usar
trechos de funk em uma prova. De quebra possibilitou que uma onipresente
funkeira carioca fosse mais uma vez relacionada à questões de educação.
Há
tempos atrás também foi noticiado que a mesma era tema de pesquisa de mestrado. A mestranda concedeu entrevistas mesmo sem ter escrito uma linha sequer. A
carta emocional da mesma defendendo sua pesquisa já é um indício do nível do
futuro trabalho. No entanto, não vai me surpreender se ainda for publicado.
Sabe se lá como essas pessoas surgem para a fama. Geralmente conhecem algum
jornalista ou orientador influente. E no final todos saem ganhando.
É uma pena as pessoas insistirem tanto consumindo produtos que
sinceramente não contribuem muito para qualquer tipo de emancipação e
engrandecimento cultural. Você nasce condenado em um ambiente que te força a
ser apenas um animalzinho trepador e quem deveria te ajudar na expansão dos
pontos de vista reforça ainda mais sua condição de miséria física e
intelectual.
Como não se pode mais resolver o problema das favelas se faz uma
propaganda pesada de que ser favelado é bom (com direito a extensa matéria no
Fantástico sobre a nova classe média dos morros). Como não se investe dinheiro
na educação se incentiva que o aluno não pense, não leia e apenas reproduza as
ideologias individualistas, consumistas e de ostentação.
E como é fácil doutrinar! Como tem se mostrado fácil e eficiente
essa fábrica de gente de dentes dourados, coração frustrado e cabeça
cheia de lixo. E por aí vamos descendo ladeira abaixo tendo em vista que a
alienação e a imbecilização não é um privilégio apenas dos pobres e miseráveis.
Nossos ricos estão aí e não me deixam mentir. Todo tipo de manifestação de uma sociedade, as ideias, folclore,
comportamentos são sim culturais. Nem tudo é política, mas quase tudo é
cultura.
O problema é quando se torna um pecado você atribuir valores às
coisas. Ou redefinir certos conceitos. O lixo não precisa ser proibido, mas por
que não incentivar que se conheça o luxo? O maior erro desse país é a baixa
auto estima. É nós damos um grande valor ao que fazemos de mais vergonhoso e tosco.
Portanto, fica a questão: para ser um pensador
basta pensar? No que se "pensa"? Para ser considerado um cantor basta gravar uma
música? Para ser considerado um artista basta subir em um palco e simular
relações sexuais? Bem, eu acho que não.
Mas o que é a minha opinião em relação ao que nossas autoridades, nossos
diretores de programação da televisão, nossos acadêmicos equivocados e
pedagogas deslumbradas pensam? E sim, eles pensam. São os grandes pensadores
contemporâneos.
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