"Eu sou um animal!" Uma análise do perfil psicológico do Pinguim

 

A história do Pinguim começa e termina no Natal. Retornamos àquele mundo gótico acompanhando o seu nascimento. A criança era diferente e sua humanidade lhe fora negada, sendo mantida em uma jaula. Nessa prisão, havia o enfeite de um patinho amarelo de borracha pendurado. Em uma noite de inverno, seus pais amargurados decidem se livrar do filho, atirando-o em um rio de Gotham. Anos depois, os jornais sensacionalistas estampam manchetes sobre o misterioso homem-pinguim dos esgotos.

 

 

 

 

Max Shreck, um dos mais inescrupulosos empresários da cidade, é chantageado e obrigado pelo Pinguim a formar uma aliança. Com o rapto do filho do prefeito, o Pinguim faz sua primeira aparição pública, trazendo de volta o bebê dos esgotos, sob o olhar atônito dos cidadãos. Em uma entrevista à TV, ele afirma querer descobrir quem são seus pais. Bruce Wayne se sensibiliza com a questão, mas rapidamente começa a desconfiar de suas intenções.

 

 

Após visitar o túmulo de seus pais, ele se incomoda ao ser chamado de Pinguim e afirma que é um homem e que tem um nome: Oswald Cobblepot, o primogênito de uma das famílias mais ricas de Gotham. Mostra suas mãos em forma de nadadeiras e afirma que os perdoa. Além do nariz em formato de bico, Oswald provavelmente sofre de sindactilia, uma anormalidade embriológica que ocasiona a junção de dois ou mais dedos das mãos ou pés. É realmente uma doença rara e possivelmente ele também tenha afetado os pés, o que justificaria o seu andar e sua dificuldade de movimentação.

 

Shreck quer aproveitar a popularidade de Oswald e o convence a se candidatar à Prefeitura. Em suas investigações, Batman descobre coisas estranhas a respeito do Circo do Triângulo Vermelho. Ele fica sabendo sobre as antigas atrações, como a do menino pássaro aquático, e do desaparecimento de crianças, o que causou o fechamento do circo. Fica subentendido que o jovem Oswald passou sua infância e adolescência como uma atração circense bizarra.

 

Durante sua campanha política, Oswald, além da sua habitual violência contra quem debocha de sua aparência, começa a apresentar uma libido latente e se deslumbra com as vantagens de ser um político poderoso. Nesse contexto, já não permite ser chamado de Pinguim por seus capangas do Circo do Triângulo Vermelho, gritando que seu nome é Oswald. Sua gangue aumenta as atividades criminosas, o que o coloca definitivamente em rota de colisão com o Batman. Ambos se encontram inebriados pela Mulher-Gato. Cobblepot e Selina Kyle se unem para destruir a reputação do Homem-Morcego, mas ele não hesita em tentar matá-la ao sofrer seu escárnio.

 

 

O Pinguim de Danny DeVito é uma figura trágica, uma criatura triste e solitária, completamente amargurada, ressentida e revoltada. Alguém que nunca sentiu o afeto dos pais ou o abrigo quente de uma pessoa amada. E que foi condenado a viver nas profundezas do Mundo Ártico do Parque de Gotham. Em uma discussão com Shreck, este afirma para Bruce que ele poderia ter sido colega de escola de Cobblepot, o que não é nenhum absurdo, pois são filhos da aristocracia de Gotham. Porém, os dois se tornaram seres diferentes a partir de seus traumas.

 

Visualmente, o vilão utiliza três roupas marcantes: um enorme casaco preto que o faz ter a aparência selvagem de um grande Pinguim; o visual clássico composto pelo smoking, cartola, guarda-chuva e monóculo; e, em grande parte do filme, uma espécie de roupa de bebê surrada. Seu veículo tem o formato de um pato amarelo semelhante ao que ficava pendurado em sua jaula. À sua maneira, ele tentou conservar os únicos resquícios de sua breve infância antes de ser abandonado. 

 

 

Batman consegue expor suas reais intenções e Cobblepot retorna ao Mundo Ártico sendo perseguido pela polícia. Novamente descartado, retorna para os esgotos e rasga suas belas roupas civilizadas. E aos berros, afirma que não se chama Oswald, e sim Pinguim! Não é um ser humano, mas um animal de sangue frio.

 

O Pinguim organiza o sequestro dos primogênitos da cidade. Sua gangue rapta os filhos da alta sociedade enquanto os pais se encontram em um baile de máscaras de Max Shreck. É interessante perceber como Shreck pode ser considerado o maior vilão dessa trama.

 

Novamente, os planos de assassinar crianças são impedidos pelo Cavaleiro das Trevas, fazendo com que Pinguim parta para o ataque final. Tem início a marcha dos pinguins equipados com mísseis em direção ao centro de Gotham. O herdeiro dos Cobblepot assiste ao percurso saboreando um peixe cru e justifica seus atos concluindo que nunca o respeitariam, então serão todos mortos. 

 

No confronto físico contra Batman, ele desfere uma frase mais certeira que golpes de guarda-chuva: “você tem ciúmes porque sou um ser bizarro de verdade e você precisa usar máscara”. Essa luta termina com o vilão sofrendo uma grande queda.Ao emergir da água, ele se encontra bastante ferido e incomodado com o calor resultante das explosões provocadas pelos mísseis de seus próprios pinguins de estimação.

 

Sua última chance de um ataque contra o Morcego vai por água abaixo quando ele pega um guarda-chuva inofensivo, cheio de enfeites infantis. Desaba praticamente sem vida no chão, tendo como último desejo apenas um copo de água gelada. Três décadas depois do mergulho nas águas gélidas de Gotham, que sentenciaram sua vida, seu sofrimento termina nessas mesmas águas, após ser empurrado por seis pinguins em um breve cortejo fúnebre. Batman observa tudo. É Natal. Um Pinguim morreu em Gotham City.