Jornais e sites divulgaram hoje (mas talvez não com toda amplitude que deveria) a mais nova estripulia do pastor evangélico e deputado federal (teoricamente eleito democraticamente) Marco Feliciano. Durante um culto em um evento gospel realizado no litoral norte de São Paulo ele deu voz de prisão para duas mulheres que se beijaram durante seu culto religioso.
O nível de fanatismo e abuso de poder chegou ao ponto de deputados pastores, servidores da população, darem ordens de prisão para as pessoas que não compartilham de suas "verdades religiosas". Hoje a voz de prisão é para meninas se beijando. Amanhã será para qualquer pessoa que não compartilhar das mesmas ideias fechadas, simplistas, moralmente questionáveis e preconceituosas.
A notícia foi divulgada em veículos como G1 e no site Pragmatismo Político. De acordo com os mesmos ao presenciar o beijo entre as meninas o pastor teria dado ordem para que policiais militares prendessem as garotas.
O representante dos Direitos Humanos da Câmara disse: "A Polícia Militar que aqui está, dê um jeitinho naquelas duas garotas que estão se beijando. Aquelas duas meninas têm que sair daqui algemadas". O resultado foi a expulsão das garotas de 18 e 20 anos por seis guardas civis municipais. As garotas acusam os policiais de terem abusado do uso da força.
Pelo que se percebe mais uma vez é o prazer e naturalidade com que o deputado pastor abusa do seu poder. Com um microfone na boca e sendo adulado por seus milhares de seguidores ele incita a violência, promove a discórdia e desagregação de uma sociedade, suga economias de deficientes físicos e pede senhas de cartão de crédito.Há poucos meses atrás, Marco Feliciano era "apenas" mais um de uma extensa lista de pastores evangélicos de moral, conduta e capacidade intelectual controversas, mas que por meio de suas declarações preconceituosas, visões de mundo limitadas e visual extravagante acabou por ganhar fama e milhares de seguidores de moral, conduta e capacidades intelectuais igualmente controversas.
Com o apoio de políticos corruptos e odiados como o governador do estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral ele acabou por chegar ao cargo de deputado federal em Brasília. Por meio de uma série de manobras e esquemas de troca de cargos, posicionamentos estratégicos de partidos políticos ele acabou por garantir seu lugar como Presidente da Comissão de Direitos Humanos na Câmara.
O que gerou e tem gerado uma série de conflitos entre entidades de defesa dos direitos LGBT, como de grupos negros, humoristas e todo o restante do Brasil pensante. Seria ótimo se todos pudéssemos simplesmente viver nossas vidas, respeitando as diferenças étnicas, culturais, religiosas e o espaço de cada pessoa ou grupo. E isso incluiria deixar de lado e não dar importância para o que seres como Marco Feliciano vomita em seus cultos e vídeos do You Tube.
A grande questão é que enquanto vivemos em sociedade estamos todos interligados de muitas formas e nossas atitudes, por mas ínfimas que possam parecer, acabam por afetar a vida de outros. Uma outra problemática é a falência da educação como objetivo e direito de um povo.
A derrocada desta está relacionada à corrupção política, ao crescimento do fanatismo religioso, da intolerância, da busca da riqueza, do consumo pelo consumo e da impossibilidade de se tentar compreender diferentes teorias e visões de mundo.
A grande questão é que enquanto vivemos em sociedade estamos todos interligados de muitas formas e nossas atitudes, por mas ínfimas que possam parecer, acabam por afetar a vida de outros. Uma outra problemática é a falência da educação como objetivo e direito de um povo.
A derrocada desta está relacionada à corrupção política, ao crescimento do fanatismo religioso, da intolerância, da busca da riqueza, do consumo pelo consumo e da impossibilidade de se tentar compreender diferentes teorias e visões de mundo.
Esse cenário um tanto desolador é favorável para que figuras como o pastor Diva Feliciano brilhe. Assim como outros da mesma estirpe como Edir Macedo, Waldemiro Santiago, R.R Soares e tantos outros.
Talvez as garotas tenham se beijado como forma de protesto contra Feliciano, mas isso lhe dá o direito de expulsá-las de um local público? Elas deveriam ser presas e agredidas por policiais por causa de um beijo? Beijos são proibidos dentro de Igrejas evangélicas? O evento "Glorifica Litoral" não acontecia dentro de um de seus templos.
Esse episódio me lembrou de uma das melhores partes do filme "Pink Floyd The Wall". Justamente a sequência em que o protagonista Pink (Bob Geldof) surge como um líder das massas (fazendo clara alusão ao nazismo). E começa a ordenar que os gays e outras minorias presentes sejam expulsas e agredidas.
Em seguida suas tropas politicamente corretas (os Hammers) correm pela cidade quebrando lojas e atacando pessoas. Não é novidade que ditadores radicais como Adolf Hitler ainda é uma inspiração para políticos e demais líderes modernos. E pelas atitudes e opiniões de muitos políticos brasileiros percebemos como as ideias totalitárias ainda se fazem presentes.
Em uma época de trevas como a atual onde a corrupção e o abuso ocorrem à nível planetário, as atitudes absurdas de pastores ladrões e estupradores soam como normais e rotineiras para seus milhares de seguidores. Por tudo isso, as pessoas de bom senso não devem se calar perante esses atos de violência, abuso de poder e covardia.
Porque sim, essas pessoas que pregam o ódio e incentivam a desagregação das pessoas têm medo, muito medo. Por terem medo, por serem covardes, acabam por vestir máscaras e tentam obter cada vez mais poder. No final, eles se apresentam como únicos porta-vozes de uma única verdade. Falsos profetas e falsas pessoas. Pretensos salvadores do caos criado por eles mesmos.
Eu sou monitora de um espaço cultural aqui de SP, e na sala que eu dou monitoria temos todo um aparato pra fazer atividades com alunos\visitantes, um deles (meu preferido) é um espaço tipo uma mesa redonda pra fazer debates, com temas pré-determinados da sala. Essa semana recebi um grupo de alunos do primeiro e segundo ano do ensino médio, e propus o tema: adoção de crianças por casais homossexuais.
ResponderExcluirFiquei absolutamente chocada com o discurso dos alunos, pq uma coisa é ver a tiazinha que frequenta a igreja X, de seus 50 e tantos anos, dizer que "acha uma safadeza esse negócio de mundo gay" -- não deixa de ser bizarro, mas enfim...--outra é ver a garotada com seus 14, 15 anos reproduzindo esses discursos sem nem ao menos refletir, sem sentir de fato... falas como "tem que matar", "tem que encher de porrada", nem deixam a gente prosseguir o debate, assustam!
Estou frente a uma oportunidade de ouro de exercitar meus argumentos, meus pensamentos, minhas formas de expressão pra ajudar o publico mais jovem a refletir, mas confesso que as vezes fico tão assustada que me calo pra não voar no pescoço, ou gritar ou algo parecido ahuaahuahua....
tento sempre alertá-los do retrocesso que estamos vivendo, comparo com épocas e situações passadas, mas olha, trabalho dificil viu?!
Desabafos a parte, rs, seu texto me ajudou a ligar certos pensamentos!! Obrigada hahahah
Olhe que matéria interessante saiu hoje no Jornal O Globo:
Excluirhttp://oglobo.globo.com/mundo/papa-francisco-igreja-nao-deve-interferir-com-os-gays-10035690
"O Papa Francisco disse em uma extensa entrevista publicada em uma revista católica que a Igreja tem o direito de manifestar as suas opiniões, mas não pode interferir espiritualmente nas vidas de gays e lésbicas, expandindo seus comentários sobre um assunto que divide clérigos. O Pontífice criticou religiosos cada vez mais obcecados em pregar sobre o aborto, casamento gay e contracepção - e disse que escolheu não falar sobre isso."
Não tenho religião, mas acho que mais correntes religiosas deveriam adotar esse tipo de postura.
Quando nós deparamos com qualquer situação de ignorância realmente ficamos estarrecidos e preocupados Raquel. Não dá pra saber se as opiniões desses adolescentes perdidos do seu espaço cultural representam a maioria da população. Espero que não. Qual a classe social da maioria deles? E nível sócio-cultural? Só por curiosidade.
ResponderExcluirO que acontece em nossa sociedade é uma profusão de discursos completamente antagônicos. Mil notícias e "verdades'' pipocando por segundo e as pessoas (muitas ainda em processo de formação de personalidade) ficam perdidas no meio de tudo.
As crianças são as mais vulneráveis em qualquer situação de violência. Porque toda forma de doutrinação que não incentive a emancipação são formas de violência. Seja a religiosa como também o culto à fama e o ultra consumismo.
O fato dos seus alunos chegarem a impedir o prosseguimento da conversa pode significar várias coisas. Desde a mente infantil já poluída com preconceitos até o policiamento religioso fazendo efeito.
Professores amigos meus já me relataram que alguns alunos evangélicos intolerantes não se permitem conhecer alguns filósofos. E esse tipo de atitude não se restringe à alunos. Professores e diretores religiosos (evangélicos) confundem as coisas. Rezando dentro de sala de aula e proibindo certos livros e atividades que remetam à cultura negra ou outras religiões.
O que tenho percebido em pessoas assim é a incapacidade de entender textos e aceitar/respeitar outros pontos de vista. Na medida em que, na ânsia de já discordarem nem leem com dedicação, respeito e vontade.
Outro problema é de as pessoas serem incapazes de relativizar as coisas. Pensarem mesmo. Elas querem alguém que dê respostas rápidas, soluções. Então aceitam qualquer imbecil como Marco Feliciano. Na visão de todos, esse tipo de gente é forte. Mas na verdade é um fraco incapaz. O perigo é quando se dá poder para medíocres complexados.
Lá nós costumamos receber alunos de escolas públicas e particulares, sem distinção, esses em especial eram de Diadema, de um colégio estadual bem simples, periferia e tals... também escuto discursos assim de alunos de colégios católicos, em geral dos meninos (engraçado que nesse mesmo dia, fiz o mesmo debate com uma turminha de terceiro ano do ensino médio de um colégio católico, mas fluiu super bem, dois deles eram contra a adoção de crianças por casais homossexuais, mas souberam defender o ponto de vista e respeitaram quem era a favor, foi inclusive uma discussão mto gostosa de se fazer --- outra curiosidade é que nessa situação, quem não queria que se começasse o assunto era o PROFESSOR, dizendo que eles tinham alguns casos assim na escola e não queria constranger os alunos...). Sempre costumo dizer nas minhas monitorias que é essencial que cada um deles tenha OPINIÃO, seja ela qual for, que saiba defende-la, saibam argumentar os prós e os contras, que entendam a conjuntura das situações, que saibam pq são contra e saibam se colocar no lugar daquele que é a favor (e vice versa) e isso tudo sempre, sempre, sempre com muito respeito. Digo sempre que uma opinião jamais deve ser desvinculada de respeito.
ExcluirMas enfim né, a gente faz o que pode, nem sempre todo mundo escuta, mas a gente não desiste rs...
A parte que eu mais amo fazer no meu trabalho com educação informal, (ação educativa de museu), é exatamente a liberdade que tenho de dizer as coisas mais abertamente, a ideia é justamente essa, fazer com que as pessoas se coloquem em posições contrárias as que acreditam, exercitar a reflexão, pontos de vista, aguçar pensamentos críticos, encaminhar os alunos a questionar mais e qualquer coisa, muitos deles não sabem que eles podem e devem questionar professores, livros e afins, ficam super entusiasmados quando percebem que isso está ao alcance, que isso é fazer política dentro do contexto deles, é sensacional caminhar com essas descobertas, admito ahahaha (mtos professores me odeiam durante as monitorias hahah).
Costumo falar de td que eu posso (dentro dos temas), desde vicios de linguagem que formam expressões machistas atééé posicionamentos politicos e tal.
Mas é exatamente isso o que vc disse, as pessoas não tem costume de sair um pouco da posição em que estão pra tentar enxergar de outro angulo, por mais que seja só um exercicio e não pra realmente negar as convicções... esse é o maior desafio que tenho la, o da desconstrução, mas acredito que de pra fazer algo, nem que seja colocar uma pulguinha na cabeça de cada um deles, mesmo que fique por pouco tempo e depois o comodismo mate a pulguinha com o passar dos dias.
ai... como eu amo trabalhar com isso hahahaha!! Tem profissão mais legal que ser historiador? me diz? ahauahuaahu
Muito bacana Raquel!
ExcluirA sua postura adotada com essas crianças e adolescentes é essencial. O professor, mestre por excelência (na minha opinião) é aquele que não se satisfaz com verdades absolutas. E com isso em mente, incentiva seus alunos a serem questionadores, curiosos e buscarem dentro das possibilidades formas próprias e autênticas de se emanciparem.
Concordo também quando você afirma que uma opinião jamais deve ser desvinculada de respeito. Mas nem sempre é possível respeitar as pessoas e suas opiniões.
Infelizmente, muitos assuntos, polêmicos ou não, são censurados por professores. E como muitos se formam e vivem suas vidas acadêmicas apenas repetindo discursos estabelecidos, é natural que se incomodem com quem expressa ideias diferentes, novas e mais interessantes. Muitos colegas de profissão não gostam de mim também. Portanto, fique fria! rs
Respondendo a sua pergunta. Não sei dizer se historiador é a melhor profissão do mundo, mas sem dúvida deveria ser mais valorizada. É divertida? Sim. Mas tem seu lado angustiante. De qualquer maneira, almas inquietas devem se tornar historiadores ou detetives! hehe
Atitudes absolutas em alguma medida geram atitudes absolutas. Uma questão: se elas erraram (moralmente) em ter se beijado em um culto, Feliciano aliado a esta PM, executou ordem de prisão sem ter direito de fazer isso, a PM errou ao tirar as meninas do local, poderia apenas ter ido até elas e pedido para parar (numa ideia de bom senso). Mas, elas tem direito de manifestar e, de algum modo, feriu a moral religiosa. O que fazer quando dois direitos se conflitam? Bom senso. elas não deveriam ter sido presas. Acontece, como vc. mesmo disse no artigo, estes caras, aliados a politica brasileira escrota, se outorgaram poder de decidir sobre nossas vidas e corpos. Quando nos opomos, eles nos crucificam com termos impios. Como disse no início, criaram um absolutismo moral e de valores religiosos distorcidos e agora (num momento de debate e de oposição a estas ideias), se protegem sob a rubrica de religiosos feridos pelas morais relativistas. Feliciano, como os demais pastores midiáticas, se traveste de bom moço preocupado com a sociedade mas, no fundo, quer poder. Que poder maior do que ser presidente da CDHM por conta de acordos sórdidos? Minar todas as outras formas de vida....estamos sendo massacrados por esta moral religiosa falsa pregada por estúpidos de terno...
ResponderExcluirMuitos desses pastores, ao contrário dos padres católicos que têm uma postura mais branda, possuem uma agressividade latente. Feliciano, dentre outros quer poder sim. E obviamente não podemos dizer com certeza, mas suspeito que ele se enxergue mesmo como um ser iluminado e detentor de uma moral profunda e inquestionável. Como ele crê em uma verdade fechada isso não permite que ele se coloque na posição do outro. E cada vez que ele é criticado por suas opiniões e tuítes preconceituosos, é um estímulo para ele prosseguir no que ele considera uma cruzada. Ele se enxerga como o Cristo sendo perseguido e atacado.
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