JollyRoger 80´s

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Religião no supermercado cultural dos Estados Unidos




Gordon Mathews em "Cultura global e identidade individual: à procura de um lar no supermercado cultural" admite a religião como um aspecto importante na cultura norte-americana desde a fundação da nação. Empreendeu um estudo objetivando explorar a diversidade da crença religiosa nos Estados Unidos e para isso entrevistou pessoas de diferentes grupos e crenças. Ele acredita que seus depoimentos caracterizam alguns padrões dos sentidos norte-americanos contemporâneos de identidade cultural.

Uma das questões de seu trabalho consistia na análise da cultura nacional versus supermercado cultural global. Existiria uma verdade absoluta para os norte-americanos? Ou a verdade seria algo relativo? A verdade seria uma construção do homem? Esses são alguns de seus questionamentos.

A disputa pode ser resumida como “verdade versus gosto” (...) a busca da religião (...) pode estar mais próxima de um hobby, uma busca pessoal de sua própria verdade que outras pessoas não precisam compartilhar?”

Mathews afirma que se debruçou sobre a religião, pois a mesma daria forma à idéia do embate entre a verdade versus gosto, ao qual o autor considera ligado ao conflito de cultura particular versus supermercado cultural global. Os princípios do consumismo no supermercado cultural são os princípios culturais da livre escolha individual. Aliado ao fato do poder em escala global dos Estados Unidos em forjar imagens culturais e consumo cultural.

Na pesquisa ele afirma que alguns cidadãos acreditavam que os Estados Unidos eram uma nação cristã que esqueceu sua essência. Outros afirmaram a ideia do supermercado cultural, onde qualquer um pode escolher diretamente das prateleiras o que lhe trouxer prazer. Mesmo a religião torna-se um produto, assim como a cultura na sociedade de consumo. 

Desde o começo do século XIX a rigorosa tradição puritana de Massachusetts (que dava sentido religioso da nação) foi cedendo espaço a valores do Iluminismo francês, por exemplo e suas idéias de um Deus ligado à Razão. Os fundadores da Nação preocupavam-se em manter a linguagem da Bíblia na vida americana e principalmente estabelecer a idéia da “América” como uma nação fundada divinamente, como um referencial e guia para outras nações do mundo. 

No decorrer do século XIX o Cristianismo foi tornando-se diluído e o Darwinismo foi crucial para o surgimento do agnosticismo anos depois da Guerra Civil. Com o advento da revitalização protestante num país cada vez mais comercial, vender religião torna-se algo naturalizado.

"A revitalização... empurrou a religião americana para dentro do supermercado da cultura... A intenção era salvar algumas almas, mas de forma atrevida que atirou a religião em uma competição vale-tudo pela atenção das pessoas".


Os Estados Unidos contém uma grande diversidade de grupos religiosos. Assim como em um supermercado, um mesmo produto é oferecido por diversas empresas. A religião enquanto instrumento formador de identidades também acabou por tornar-se um produto de uma Indústria cultural. Enquanto inserida num contexto midiático ela pode ampliar sua influência, adquirir novas formas de propagar ideias e aumentar consideravelmente sua participação política. 


Admitindo a transformação dos Estados Unidos de uma nação cristã para uma nação aberta a todas as religiões do mundo, Gordon Mathews conclui que ocorreu uma mudança da verdade para o gosto, como marca dominante da religião no país. Pois, com tantos caminhos e opções possíveis é difícil alguém se afirmar como dono de alguma verdade. Os Estados Unidos seriam então a terra dos sonhos do consumo cultural onde a felicidade almejada pode estar disponível em prateleiras de supermercado.



*Esse texto é parte integrante do trabalho "Identidade cultural e Religião no Mercado Cultural"

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