JollyRoger 80´s

JollyRoger 80´s

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

VIDEODROME é o agora!

É muito interessante pensar como certas obras (literárias ou cinematográficas) traduzem certas realidades inerentes à época de sua produção. No caso, o filme "Videodrome" de David Cronenberg ( Scanners; A Mosca ) apresentou, no estilo autoral psicológico científico-surrealista do diretor, questões perturbadoras da década de seu lançamento, mas que ainda se mantém atuais. A película é pontuada por um discurso polissêmico que pode dar origem a múltiplas interpretações.

Na trama oitentista, Max Renn (James Woods), é um polêmico executivo de um pequeno canal de TV especializado em atrações violentas e de conteúdo pornográfico, que se encontra insatisfeito com a programação. Renn “por acaso” toma conhecimento do Videodrome, um misterioso programa onde seus participantes se submetem a sessões de tortura e sexo.


Acredita que esse tipo de atração seja o futuro da televisão, tendo em vista o crescente público interessado. Sua busca incessante pelo Videodrome faz com que ele mergulhe em alucinações, conspirações e manipulações cerebrais.


Um aspecto ressaltado por Tadeu Capistrano, Doutor em Literatura Comparada pela UERJ e professor de Teoria da Imagem da Escola de Belas Artes da UFRJ, é crucial para se fazer o link da trama com aspectos da contemporaneidade: o processo de virtualização dos personagens do filme. 

Esse aspecto se manifestou nas pessoas reais nos últimos anos com o Boom de redes sociais como Orkut e Facebook, sendo que este último rendeu um filme sobre seu bilionário criador.

O contexto aparente é: Se as fotos de um evento não forem postadas na internet é como se o mesmo não tivesse ocorrido; se um acontecimento não vira notícia na TV é como se não tivesse existido; se algo não for escrito em livros de História não se torna um fato. 



Outra curiosidade é a busca incessante do protagonista, Max Renn, por uma atração que oferecesse emoções reais e intensas para os telespectadores. Ele e sua amante sadomasoquista Nicki (interpretada por Debbie Harry, vocalista da banda Blondie) cada qual a sua maneira, encontram no subversivo programa Videodrome a válvula de escape ideal para esse público ávido por sexo e violência. 



Acredito que não seja um absurdo afirmar que o Videodrome é o agora!


Alguns “reality shows” na TV aberta expõe seus participantes a situações de dor e humilhação. No Brasil, o mais famoso deles, “Big Brother” (* Pergunte para algum dos participantes ou dos telespectadores se eles sabem o porquê desse nome ) tem apelativo conteúdo sexual e na Internet existem milhares de vídeos com pré-adolescentes dançando lascivamente ou se despindo em tempo real em webcams. Ou seja, o subversivo, o x-rated, o underground tornou-se Instituição, sendo transmitido no horário nobre para milhões de pessoas.


O professor Tadeu Capistrano salientou a idéia dos corpos apáticos, insatisfeitos em sua essência que buscam superexcitação e experiências. Na atualidade, a TV e as redes sociais da internet podem saciar os anseios de milhões de miseráveis por todo o mundo, oferecendo uma espécie de Zoológico online.

A televisão ainda ocupa lugar de destaque como meio de informação e entretenimento barato, mesmo com o advento da internet. O poder que a TV exerce no personagem Max Renn pode servir como exagerada e estilizada metáfora para o modo como as pessoas podem ser influenciadas e manipuladas pelas notícias e por “gurus” televisivos.





Vida longa à nova carne pensante!

5 comentários:

  1. Os filmes do David Cronenberg são muito bons! O cara é viciado em psicologia, horrores científicos e ... insetos! Resumo bem resumido.

    ResponderExcluir
  2. Também gosto do Cronenberg... Sei lá, ele tem um quê de lado "B" que me atrai !

    ResponderExcluir
  3. Então, é lado "B" de "Blérgh". Cronenblergh! rs
    Para se ter uma idéia, o filme mais normal que vi dele até agora foi "A Mosca". Acabei de pegar "Scanners" emprestado.

    ResponderExcluir
  4. Me lembra um aluno meu de 6º ano que certa vez discutia comigo que antes da invenção da televisão não poderia existir História ou fato histórico, pois apenas o que aparece na televisão é "importante", logo antes de existir a televisão, nada de "importante" poderia acontecer. Um daqueles momentos intrigantes em que conseguimos olhar nos olhos do inconsciente coletivo e conversar com ele através de um de seus ingênuos arautos... Taí, esse comentário pode ir pra apresentação do nosso livro! ;)

    ResponderExcluir