Uma das comédias nonsenses mais engraçadas de todos os tempos completou 40 anos em 2020! E volta e meia encontra-se disponível no catálogo da Netflix. Paródia absurda do dramalhão de filmes catástrofes, foi um dos grandes momentos do chamado "Trio ZAZ" (composto pelos diretores David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker).
Eles são os responsáveis por várias das melhores comédias norte-americanas desde o começo da década de 1980, como "Por favor, matem minha mulher", "Top Secret super confidencial", a trilogia "Corra que a polícia vem aí" com o surreal Leslie Nielsen e os dois filmes "Top Gang ases muito loucos" e "Top Gang II A Missão" com Charlie Sheen encabeçando o elenco.
O Trio ZAZ eram os irmãos de comédia norte-americanos do lendário grupo de humor inglês Monty Python. Inclusive o John Cleese, um dos integrantes do grupo, participou de uma comédia dirigida apenas pelo Jerry Zucker chamada "Rat Race", no Brasil "Tá todo mundo louco". Curiosamente, Zucker se aventurou em outros gêneros, sendo que ele foi o diretor do super sucesso "Ghost, do outro lado da vida", que não deixa de ter uma pegada de humor, na personagem de Woopi Goldberg.
"Apertem os cintos, o piloto sumiu" (Airplane, no original) conta a história de Ted Stryker (Robert Hays), um ex-piloto de guerra que sofre de estresse pós-traumático, que embarca em um vôo na tentativa de reatar o relacionamento com sua ex-namorada. mas devido à uma série de situações se vê obrigado a assumir o comando do avião e realizar o pouso em Chicago.
O filme faz uma série de paródias de outros filmes famosos da época, como Tubarão, Os embalos de sábado à noite e debocha de todas as formas possíveis dos dramas familiares e situações que filmes sérios de tragédias apresentam. Leslie Nielsen, que anos depois, iria estrelar a série de tv "Police Squad", que depois iria para o cinema como "Naked Gun" (Corra que a polícia vem aí) participa desse primeiro "piloto sumiu" como um médico, conselheiro e apaziguador de ânimos da tripulação do avião.
O que é mais engraçado nesses filmes é a forma que situações absurdas são apresentadas e interpretadas pelos atores de maneira séria e dramática. É o nonsense elevado à décima potência. Como quando todas as pessoas as quais Ted Stryker desabafa sobre seus problemas, não aguentam tanta chatice e acabam se matando enquanto ele relata seus dramas.
Na parte 2, novamente Stryker está correndo atrás de sua ex-noiva Elaine, que continua trabalhando como aeromoça (ou como alguns preferem, comissária de bordo). Só que dessa vez, ao invés de um avião para Chicago, temos um ônibus espacial indo em direção à Lua!
A sequência do original, "Airplane 2 The sequel", (no Brasil, "Apertem os cintos, o piloto sumiu 2") continua com o humor politicamente incorreto parodiando vários outros sucessos da época como Star Wars, E.T. e as convenções sociais, o sexo, religião, traumas de guerra, pais abusadores, pilotos pedófilos, dramas familiares, café...
Não sei até que ponto posso escrever sobre o filme sem estragar surpresas, mas digamos que na parte 2 também temos um ator fazendo uma participação especial na segunda-metade do filme. Digamos que anos atrás ele foi até onde nenhum homem foi antes!
Em ambos os filmes temos o sensacional Lloyd Bridges (com suas feições peculiares de homem do século passado) como o chefe McCroskey, que durante o andamento da trama, começa a retomar todos os seus vícios (cigarro, bebidas, anfetaminas...)
Podemos citar outros atores famosos que toparam não se levar à sério (levando tudo muito à sério). Como por exemplo, o famoso jogador de basquete Kareem Abdul- Jabbar (que já havia feito uma famosa sequência de luta com Bruce Lee em "Jogo da Morte"), Robert Stack, e Peter Graves. Este último, que foi o protagonista da série original "Missão Impossível" nos anos 1960, aqui interpreta o piloto da aeronave, competente no que faz, mas com alguns sérios problemas sexuais.
Como menções honrosas, podemos citar as partes que se passam nos aeroportos, repletos de integrantes de grupos religiosos distribuindo panfletos, o julgamento de Ted Stryker e seu período no Hospital Psiquiátrico Ronald Reagan, a passageira que entra em pânico e é esbofeteada pela tripulação para que se acalme, as legendas em inglês que aparecem quando dois personagens afro-americanos falam com suas gírias e os jornais do mundo todo que informam sobre os acontecimentos.
Jive Talkin´
O piloto sumiu, mas o politicamente correto chegou!
Fazer comédia sempre pareceu mais difícil do que fazer drama e isso explica como nos últimos anos os filmes de humor estão cada vez mais fracos. Obviamente temos visto surgir sempre bons talentos e grupos, mas ao mesmo tempo, uma militância politicamente correta que, se não for "vencida" vai limitar os rumos e possibilidades do humor.
Quando um grupo ou humorista passa a seguir ideologicamente uma agenda política, um código de regras rígido e se preocupar com quem pode se sentir ofendido com sua arte, ele se anula enquanto artista, nunca vai apresentar uma arte plena, pois vai estar sempre pisando em ovos, vivendo com medo, agradando apenas um público específico. E quem sabe, com medo de seu próprio público.
Por isso, tenho visto que alguns dos melhores humoristas estão nos stand-up dos Estados Unidos, pois ao que parece, eles ainda têm total liberdade para fazerem suas piadas. Humoristas como Dave Chapelle fazem verdadeiras palestras sociológicas em seus shows de humor!
O autoritarismo do pensamento politicamente correto (que se iniciou talvez com boas intenções) deve ser cada vez mais criticado e enfrentado, pois a liberdade de expressão deve prevalecer. E uma das melhores formas de pensamento crítico é justamente o escracho, a comédia, a ironia inteligente!
Um filme é um produto do seu tempo histórico. E o humor é algo naturalmente crítico, subversivo e se criarmos muitas regras e se nos tornarmos mentalmente fracos e sensíveis às piadas apresentadas nos tornaremos seres humanos estagnados e facilmente manipuláveis.
BONUS TRACKS:
'Airplane!' at 40: David Zucker defends the comedy classic's controversial jive-talking sequence: 'Everything is so sensitive nowadays
Contraponto:
Curiosidades:
Robert Hays também foi protagonista da série "Starman", que foi uma sequência televisiva do filme cult de John Carpenter, estrelado por Jeff Bridges (filho do já citado lloyd Bridges e tão talentoso quanto o pai).
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