JollyRoger 80´s

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domingo, 18 de dezembro de 2011

Roma: O Imaginário e Devassidão



Para a "compreensão" da sociedade imperial romana precisamos entender o valor atribuído por ela à ilusão teatral. É somente através do imaginário que se obtém o máximo de prazer. Os romanos viveram na busca de novas formas de prazer, sempre reinventando sua devassidão, travestindo o mundo real para novamente reencontrar o gozo da festa.

Brinca-se de representar. O rico brinca de ser pobre, o homem brinca de ser mulher (Esse tipo prazer não ficou restrito à sociedade romana). Vale tudo em nome da novidade, da excitação. O romano respeitado do alto de sua riqueza, do seu saber retórico que permite a composição de invejáveis discursos, encontra um sedutor encanto em empanturrar-se com alimentos de qualidade duvidosa e em ser possuído passivamente num quarto imundo.

E não parou por aí. Os prazeres da mundanidade popular são como uma epidemia e a representação foi realizada ao extremo. Senadores mesclaram-se aos gladiadores para lutar na arena; esse tipo de atitude fez com que uma série de senatus-consultos fossem criados no primeiro século do império, proibindo indivíduos das altas classes da sociedade (a ordem eqüestre e senatorial) de participarem de atividades não condizentes. Não obteve sucesso. E os descendentes de grandes famílias tornam-se dançarinos, atores de comédias e tragédias, jóqueis de circo, domadores de feras... As famílias se envergonham.


A "degradação" continuou. O que dizer dos imperadores que tornaram-se proxenetas? Será mesmo que Calígula criou um lupanar no próprio palácio e numa atitude até interessante, obrigou as esposas, filhas e filhos dos homens famosos a se prostituírem? Quem não tinha coragem ou dinheiro para fazer uso de tão respeitáveis mulheres foi incentivado e financiado (a juros) pelo imperador. Seguindo o exemplo de seu tio, Nero também organizou grandes festas onde não faltavam prostitutas, fossem da nobreza ou não, fossem virgens ou não.



Representando as mulheres depravadas temos Messalina, conhecida como a “puta imperial”, esposa do imperador Cláudio. Era dona de gostos pervertidos e (com outras mulheres menos famosas) pertenceu ao grupo de romanas da alta sociedade, liberadas e livres de tabus. O estilo de vida dessas mulheres não foi muito bem aceito e elas acabaram invariavelmente mortas (caso de Messalina) ou degredadas.

Antônio e Cleópatra deram o nome de vida inimitável à associação que formaram em Alexandria. Visando aproveitar o que há de melhor na vida, saíam pelas ruas (vestindo trajes humildes) fazendo algazarras. Em busca de novos prazeres, Nero também disfarçava-se e saía à noite acompanhado com seus seguranças. Nero destruía estabelecimentos, roubava mercadorias, espancava homens (com seu bando) e estuprava mulheres e rapazes. Acredita estar anônimo, mas suas ações acabam inspirando outros bandidos que se fazem passar por ele. 




O resultado é que em meados do século I nas ruas de Roma, um cidadão azarado já não sabe se está sendo agredido por seu imperador fantasiado de bandido ou por um bandido fazendo-se passar pelo imperador. Com o objetivo de ir cada vez mais longe nas redescobertas do sentido da festa, os nobres encontraram na paródia sacrílega o máximo da emoção. Já fazia tempo que não se acreditava mais nos múltiplos deuses do panteão. As cerimônias e demais manifestações religiosas são mantidas por questões políticas. A religião oficial era um meio de perpetuar a coesão do povo.

As famílias zelavam para que as tradições fossem mantidas e os que parodiavam a religião acreditavam estar indo contra a ordem social. Têm-se, então, o advento dos casamentos parodísticos pelos boêmios romanos visando uma total alteração da realidade e o jogo teatral. Resumindo ao extremo, era um casamento entre homens. Em 64, Nero "casou-se" com um certo Pitágoras, usando um véu alaranjado de noiva e também desposou um de seus eunucos. Nessa última, fez o papel de marido. A cena deve ter sido de uma meiguice absoluta.


Outros tipos de cerimônia são mais secretas, como a dos “Mistérios de Bona Dea” (divindade padroeira da fecundidade feminina). Esta era anualmente homenageada pelas mulheres na casa do principal magistrado de Roma. As senhoras, Vestais, celebravam ritos desconhecidos por todos. 

Esses ritos, provavelmente orgiásticos, povoavam o imaginário dos antigos e até influenciaram alguns devassos homossexuais à compor o tema de suas festas. Todas essas cerimônias servem como pretextos para distrações blasfematórias e pervertidas. 





Fonte: "Nos submundos da Antiguidade" de Catherine Salles. 

BONUS TRACKS:

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